sábado, 1 de outubro de 2011

Divulgando a (neuro)ciência

Aproveitando a onda do V Simpósio de Neurociências da UFMG, que ocorreu entre os dias 19 e 24 de setembro, professores e monitores se mobilizaram para receber a comunidade belo-horizontina em uma série de atividades de extensão. A I Semana de Neurociências da UFMG, título que recebeu a mobilização, constituiu de exposições, oficinas, grupos de discussão e visitas organizadas a alguns dos laboratórios da universidade. Como ex-aluno da especialização e monitor, tive o privilégio de conduzir, em companhia da sagaz e simpaticíssima Suzan Ribeiro, uma breve mas divertida apresentação do que é a neuropsicologia. Bem mais do que espectadores, cerca de oitenta alunos do ensino médio tiveram a chance de participar -- perguntando, jogando e discutindo -- de atividades relacionadas a essa emergente ramificação da neurociência. Tudo, é claro, sem perder de vista a proposta interdisciplinar do projeto.

Alunos do ensino médio no laboratório de neuroanatomia.

Tendo recebido dos professores Arthur Kummer e Karen Torres(1) as coordenadas iniciais, Suzan e eu elaboramos um material simples mas atraente, recheado de exemplos e imagens, que abordava o conceito, os objetivos e os métodos básicos da neuropsicologia. Após falarmos sobre as relações do encéfalo com a cognição e o comportamento, trouxemos ao palco o curioso caso Phineas Gage, o ferroviário que teve sua personalidade e algumas funções cognitivas -- como o planejamento, o controle de impulsos e o automonitoramento -- morbidamente alteradas em razão de um acidente. Estando certamente entre os três pacientes mais citados em aulas e livros de neurociência, Gage teve boa parte de seus lobos frontais, vistos por alguns como "o órgão da civilidade", estraçalhados por uma barra de metal.

Phineas Gage, a barra de metal com a qual trabalhava e seus crânios ilustrado e real. Depois do acidente, seus conhecidos diziam que "Gage não era mais Gage".

Mais adiante, descrevemos as principais funções cognitivas avaliadas pela neuropsicologia (sobretudo as executivas, que tanto dependem da integridade dos lobos frontais) e explicamos que a plasticidade neural possibilita tanto a reabilitação como o treinamento neuropsicológico. E, para fechar com chave de ouro, demos aos participantes a chance de vivenciar, através de jogos computadorizados, amostras do que seriam tarefas neuropsicológicas.

Momento em que os alunos participaram, jogando, de amostras de uma avaliação neuropsicológica. Da esquerda para a direta: Daniel, João Vitor(1) e parte de seus colegas.

Em complemento à visita aos laboratórios de anatomia, de neurociência comportamental e de engenharia biomédica, esperamos ter tanto suscitado espanto e curiosidade como, de forma modesta mas excitante, ter ensinado aos alunos alguns princípios rudimentares do que é a neurociência. Deve ser assim, com empenho, cuidado e sensibilidade, a forma de tocarmos o coração, digo, o encéfalo dos jovens para as maravilhas e os enigmas que a ciência, e em especial a neurociência, pode abordar.



Nota

(1) Gostaria, mais uma vez, de agradecer aos professores Arthur Kummer e Karen Torres pela belíssima e proveitosa oportunidade. Colaboradores como David Rodrigues, pós-doutorando, e Davidson, da informática, e os guias, que conduziram os alunos, tiveram um papel igualmente imprescindível para o andamento e a excelência das atividades. As fotos utilizadas nesta matéria foram concedidas pelo cordial e interessado aluno João Vitor Mello.

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