Aproveitando a onda do V Simpósio de Neurociências da UFMG,
que ocorreu entre os dias 19 e 24 de setembro, professores e monitores
se mobilizaram para receber a comunidade belo-horizontina em uma série
de atividades de extensão. A I Semana de Neurociências da UFMG,
título que recebeu a mobilização, constituiu de exposições,
oficinas, grupos de discussão e visitas organizadas a alguns dos
laboratórios da universidade. Como ex-aluno da especialização e monitor,
tive o privilégio de conduzir, em companhia da sagaz e simpaticíssima
Suzan Ribeiro, uma breve mas divertida apresentação do que é a
neuropsicologia. Bem mais do que espectadores, cerca de oitenta alunos
do ensino médio tiveram a chance de participar -- perguntando, jogando e
discutindo -- de atividades relacionadas a essa emergente ramificação da
neurociência. Tudo, é claro, sem perder de vista a proposta
interdisciplinar do projeto.
Alunos do ensino médio no laboratório de neuroanatomia. |
Tendo
recebido dos professores Arthur Kummer e Karen Torres(1) as coordenadas
iniciais, Suzan e eu elaboramos um material simples mas atraente,
recheado de exemplos e imagens, que abordava o conceito, os objetivos e
os métodos básicos da neuropsicologia. Após falarmos sobre as relações
do encéfalo com a cognição e o comportamento, trouxemos ao palco o
curioso caso Phineas Gage,
o ferroviário que teve sua personalidade e algumas funções cognitivas
-- como o planejamento, o controle de impulsos e o automonitoramento --
morbidamente alteradas em razão de um acidente. Estando certamente entre os três pacientes mais citados em aulas e livros de
neurociência, Gage teve boa parte de seus lobos frontais, vistos por
alguns como "o órgão da civilidade", estraçalhados por uma barra de
metal.
Phineas Gage, a barra de metal com a qual trabalhava e seus crânios ilustrado e real. Depois do acidente, seus conhecidos diziam que "Gage não era mais Gage". |
Mais adiante, descrevemos as principais funções cognitivas avaliadas pela neuropsicologia (sobretudo as executivas, que tanto dependem da integridade dos lobos frontais) e explicamos que a plasticidade neural possibilita tanto a reabilitação como o treinamento neuropsicológico. E, para fechar com chave de ouro, demos aos participantes a chance de vivenciar, através de jogos computadorizados, amostras do que seriam tarefas neuropsicológicas.
Momento em que os alunos participaram, jogando, de amostras de uma avaliação neuropsicológica. Da esquerda para a direta: Daniel, João Vitor(1) e parte de seus colegas. |
Em
complemento à visita aos laboratórios de anatomia, de neurociência
comportamental e de engenharia biomédica, esperamos ter tanto suscitado
espanto e curiosidade como, de forma modesta mas excitante, ter ensinado aos alunos alguns princípios
rudimentares do que é a neurociência. Deve ser assim, com empenho, cuidado e sensibilidade, a forma de tocarmos o coração, digo, o encéfalo dos jovens para as maravilhas e os enigmas que a ciência, e em especial a neurociência, pode abordar.
Nota
(1) Gostaria,
mais uma vez, de agradecer aos professores Arthur Kummer e Karen Torres
pela belíssima e proveitosa oportunidade. Colaboradores como David
Rodrigues, pós-doutorando, e Davidson, da informática, e os guias, que
conduziram os alunos, tiveram um papel igualmente imprescindível para o
andamento e a excelência das atividades. As fotos utilizadas nesta matéria foram concedidas pelo cordial e interessado aluno João Vitor Mello.
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