domingo, 23 de junho de 2013

Por que você é ateu?

Enquanto fazíamos uma rápida viagem, um simpático estudante de Teologia quis entender por que eu sou ateu. Como costuma acontecer, a resposta "Não há evidências que apoiem a hipótese de que Deus existe" não foi satisfatória, e ele acabou levantando outras curiosas mas complicadíssimas questões. Ao chegarmos em Belo Horizonte, fiquei com a impressão de que eu não consegui amarrar bem minhas ideias, e, por isso, resolvi retomar suas seguintes perguntas: "E o que criou tudo?", "E o que explica por que você veio a nascer, ou por que logo aquele espermatozoide fecundou o óvulo?" e "Então, qual é o sentido da vida?". Procurei demonstrar por que nenhuma delas nos leva logicamente a Deus, arriscando-me a explicar que tipos de erro argumentativos cometem os religiosos. Para começar, achei que seria importante definirmos os termos "religiosidade" e "ateísmo". Para finalizar, esbocei uma resposta provisória para a questão que ecoa em minha mente há quase três meses.

Religiosidade e ateísmo

A não ser as religiões politeístas e algumas em que Ele (para seguir a convenção, com "e" maiúsculo) não assume o centro do palco, a maior parte das religiões de que eu ouvi falar concebem Deus como um ser superpoderoso e, digamos, "antropofílico". É superpoderoso por saber de tudo, ter criado tudo e poder mudar tudo quando bem entender, e é antropofílico por ser bastante interessado nos assuntos humanos, como quando atende a preces ou quando encaminha tsunamis ou meteoritos a sociedades que não estão se comportando bem. Com efeito, Deus é uma entidade por quem podemos sentir amor, a quem podemos temer e com quem desejamos manter boas relações.

Se decidirmos definir religião como "o conjunto de crenças, leis e ritos que visam um poder que o homem [...] considera supremo, do qual se julga dependente, com o qual pode entrar em relação pessoal e do qual pode obter favores" (Wilges, 1995), então "religiosidade" refere-se à disposição para apresentar comportamentos que derivam direta ou indiretamente da crença na existência de Deus, a quem tal poder é identificado ou atribuído. Assim, Deus é o nó que une e justifica comportamentos como orar, fazer penitências, abdicar-se do sexo recreativo, pendurar crucifixos em prédios públicos e -- embora seja também um comportamento político -- brigar para que as escolas ensinem às crianças a história do homem que nasceu de uma virgem, andou sobre as águas e ressuscitou.

O ateísmo, por sua vez, é tradicionalmente definido como a negação da existência de Deus. Uma vez que pedras, girafas e bebês humanos não compreendem o que é Deus, eles não O podem negar. Por isso, o ateísmo é a disposição para apresentar comportamentos que envolvem, direta ou indiretamente, o questionamento ou a negação da existência de Deus. Exemplos disso são publicar na internet uma charge criticando a crença religiosa, não orar com os parentes e colocar em questão a alegação de que Deus guia o motorista devoto.



Diferentemente do comportamento religioso, o ateísmo é um perfil comportamental adquirido assistematicamente, sem mestres ou manuais. Contudo, é possível editar livros e promover cursos para desenvolver sua essência: o ceticismo.

De certa forma, o ateísmo é a aplicação do ceticismo aos assuntos religiosos. Para definir "ceticismo", nada melhor que dar a palavra ao memorável Carl Sagan (1996/2006):

O pensamento cético se resume no meio de construir e compreender um argumento racional e -- o que é especialmente importante -- de reconhecer um argumento falacioso ou fraudulento. A questão não é se gostamos da conclusão que emerge de uma cadeia de raciocínio, mas se a conclusão deriva da premissa ou do ponto de partida e se essa premissa é verdadeira (p. 241).
Muitas pessoas são céticas sobre as promessas de um político, com um vendedor que tenta lhes vender um produto bom e barato ou a respeito da existência de vida inteligente em outros planetas. Embora muitas pessoas sejam céticas sobre uma variedade de assuntos, elas permanecem convictas de que o universo foi projetado para nós, que podemos entrar em contato com entidades sobrenaturais e que a morte não é o fim da consciência. O ateu, por outro lado, nega ou questiona abertamente essas coisas, por melhores que possam ser. Ele aplica o ceticismo às crenças religiosas, ocasionalmente demonstrando por que elas são tendenciosas e racionalmente insustentáveis.

A partir do espírito cético, passo a abordar as questões complicadas que o estudante de Teologia me fez.

"E o que criou tudo?"

Se eu disser que o início do universo foi provavelmente caracterizado pelo Big Bang -- que consistiu numa súbita, quente e veloz expansão de um micropontinho de matéria muitíssimo denso --, qualquer espertinho ainda perguntaria "E o que criou ou causou o Big Bang?". Diante disso, dou espaço à minha humildade: Eu não sei explicar a origem de tudo. Todos conhecemos bem a resposta do religioso sobre o mistério do início dos tempos: Deus.

Em primeiro lugar, o fato de que podemos nos perguntar "E o que veio antes?" não implica em ter havido algo antes, muito menos que Deus tenha dado um pontapé inicial. É realmente estranho pensar que o universo surgiu "do nada", e o problema não se resolve ao propormos que ele surgiu, ou melhor, se desenvolveu a partir de um ponto de matéria hipercomprimida. Considerar que o mundo sempre existiu não deixa de ser uma forma de amaciar o problema, mas os proponentes dessa hipótese não estão em melhores condições para se defender. Já li em algum lugar que nosso universo pode ter sido "gerado" por um outro universo, mas crer nisso não nos impede de perguntar "E o que gerou o universo antecessor?".

Qualquer que seja nossa aposta, nossa ignorância no assunto não nos autoriza a concluir que "Deus" é a melhor resposta. Antes de Darwin ter desenvolvido a teoria da evolução das espécies pela seleção natural, "Deus" era chamado para explicar nossas origens. A história nos mostra que tolerar nossa ignorância por algum tempo tende a ser uma decisão melhor do que nos contentar com as explicações baseadas em . Usar Deus para preencher lacunas não tem sido um bom negócio.

Em seu livro História Natural da Religião, David Hume (1757/2004) sugere que nossa ignorância sobre as origens ou causas dos acontecimentos nos estimula a inventar entidades ou poderes ocultos para explicá-los. Mais do que isso, Hume nos lembra que os humanos "têm uma tendência geral para conceber todos os seres segundo sua própria imagem, e para transferir a todos os objetos as qualidades com as quais estão familiarizados" (p. 36). Assim, ao mesmo tempo em que inventamos uma entidade para resolver o problema do início dos tempos, atribuímos a ela um poder muito bem explorado por nós: a criação. Como somos seres genuinamente criativos -- criamos meios de transporte, eletrodomésticos e livros, por exemplo --, estaríamos suscetíveis a supor que houve um Criador do universo e da vida. O raciocínio parece ser o seguinte:
(A) Coisas complexas são intencionalmente criadas.
(B) Os seres vivos são complexos.
(C) Logo, os seres vivos foram intencionalmente criados.
Embora o ser humano crie intencionalmente uma porção de coisas complexas, os seres vivos são um tipo de "coisa complexa" cuja origem provavelmente decorreu do processo cego da seleção natural. Isto quer dizer que a premissa inicial (A) não é generalizável para todas as coisas existentes, fazendo com que a conclusão (C) não seja logicamente boa.

Mais uma vez, eu não sei praticamente nada sobre o início dos tempos. Pode ser que nunca solucionemos esse problema, mas isso não faz com que a explicação religiosa seja uma boa explicação. Portanto, prefiro tolerar minha ignorância e manter minha humildade intelectual.

"E o que explica por que você veio a nascer, ou por que logo aquele espermatozoide veio a fecundar o óvulo?"

Muitos religiosos dizem que a vida é uma dádiva divina. Concluem que, por a gestação e o nascimento de um bebê serem fenômenos bonitos, complexos e perfeitos, só podem se tratar de uma das brilhantes criações de Deus. E, ao pensarem que nossas existências particulares dependeram de que um espermatozoide específico fecundasse o óvulo, e não algum outro dos centenas de milhares contidos numa ejaculação, concluem que nossa existência é um milagre.

Segundo Hume (1757/2004), quanto mais um indivíduo vive uma vida governada pelo acaso, mais ele é supersticioso. Ao atirarmos uma moeda ao ar, cada uma de suas faces tem 50% de chance de cair virada para cima. Se resolvermos passar um dia inteiro atirando moedas, verificaremos que não haverá uma predominância de resultados "cara" ou "coroa". Ninguém dá a mínima para isso. Por outro lado, se nossa vida ou nosso sustento repentinamente dependessem de um único arremesso de moeda -- a ser feito por um sequestrador ou pelo patrão, por exemplo --, nenhum religioso deixaria de agradecer a Deus por ter sobrevivido ou por não ter perdido seu emprego. Nossa superstição e nossa conclusão de que Deus interveio dependem da importância que damos às coincidências e aos acontecimentos improváveis.

Surpreendido pelo improvável, o religioso pode se sentir injustiçado pela morte de um filho ou abençoado por ter passado num concurso concorridíssimo.

Daí que, uma vez que normalmente julgamos que nossa vida é assaz importante, seria estranhíssimo entendê-la como um fruto do acaso. Não só a capacidade de procriar seria uma dádiva divina, mas também o nascimento de cada indivíduo particular!...

Um milagre pode ser entendido como uma violação das leis da natureza (Hume, 1748/?), mas eu não vejo razão para crer que eu, você e os demais sete bilhões de seres humanos do mundo originamos de bilhões de violações naturais. Para estender um pouco mais, não vejo por que crer que Deus interferiu no nascimento de cada lagartixa e no germinar de cada planta existentes. Uma vez que estamos manipulando genes e fecundando óvulos artificialmente, não precisamos mais apelar para poderes sobrenaturais para explicar a origem de uma nova vida.

Como a geração de vidas é um processo regido por leis naturais, e não por energias ocultas e insondáveis, é possível aos geneticistas fazerem o que fazem. Não há milagres aí. E o fato de que na reprodução humana natural há uma concorrência absurda entre os espermatozoides não faz de nossa existência particular um milagre. Eventos improváveis ocorrem ininterruptamente ao nosso redor. O fato de nos considerarmos importantes não implica em ter havido uma interferência sobrenatural para que viéssemos a existir. Precisamos descer do pedestal.

Com alguma insistência, o religioso poderia dizer que processos como a seleção natural, a fertilização de óvulos e o arremesso de moedas podem ser dirigidos ou guiados por Deus. Mesmo que o religioso possa alegar isso, ele o faz apenas com base em sua fé. Ter fé normalmente significa crer sem evidências ou boas razões. Além de não ser logicamente bom, o argumento da fé tem o poder de encerrar qualquer debate.

"Então, qual o sentido da vida?"

Em seu documentário A Grande Questão, Richard Dawkins sugere que nosso questionamento sobre o sentido da vida deriva da nossa capacidade de pensar e agir baseados em metas ou objetivos. Mas o fato de seres humanos terem intenções ou propósitos não implica em que nossa existência -- ou a existência do universo -- tenha algum propósito. Mais uma vez, estaríamos atribuindo ao mundo ou à vida características nossas. O que podemos seguramente dizer é que as pessoas têm propósitos de vida, isto é, que cada indivíduo humano possui metas ou objetivos a serem alcançados. O sentido da vida seria, assim, o sentido que cada indivíduo atribui à sua própria vida, e isto depende em grande parte dos objetivos traçados por cada um.(1)

Ao que parece, o religioso não vê sentido algum na ideia de que não há propósito em nossa existência. Para ele, é necessário que haja "algo mais". O que fazemos aqui seria parte de um projeto superior e teria repercussão em estágios posteriores à nossa morte. Se não fosse assim, qual seria o sentido de vivermos?

Bom, o sentido da minha vida envolve, por exemplo, eu me casar e ter filhos, ser professor universitário e ajudar no avanço da Psicologia enquanto ciência. O sentido da minha vida é substancialmente composto pelos propósitos que eu estabeleço durante a minha existência. Não crer que haja vida após a morte não faz com que minha vida perca o sentido.

Perguntar pelo sentido da vida parece ser um comportamento enviesado pela ideia de que tudo o que existe possui um propósito, uma intenção ou um objetivo. No entanto, não temos por que acreditar que tudo foi planejado e criado, e sim o desejo de que tenha sido.

"Por que você é ateu?"

Muitos pesquisadores buscam a explicação do ateísmo na inteligência (sem muito sucesso, devo dizer), e a maior parte de nós justifica nossa descrença pelo fato de que as alegações religiosas não são sustentadas por evidências. Eu até acho que a aquisição e a manutenção do ateísmo requeiram um bocado de inteligência, mas o fato de haver muitos religiosos inteligentíssimos -- e muitos ateus meio obtusos -- enfraquece a "hipótese intelectual". Uma inteligência satisfatória pode até ser necessária, mas não suficiente para explicar o ateísmo.

A parte da inteligência que suponho ser importante para a emergência do ateísmo refere-se ao conhecimento formal que adquirimos sobre o mundo natural. A popular tensão entre ciência e religião é, na verdade, uma tensão gerada pelos conflitos entre suas teses. Qualquer indivíduo com inteligência média consegue entender que a tese de que Deus criou o ser humano é irreconciliável com a tese de que os animais evoluíram através de um processo natural e desprovido de propósito, bem como que a tese de que o mundo foi criado há menos de dez mil anos não pode conviver com a tese de que o universo vem se expandindo há mais ou menos quatorze bilhões de anos. Tais incompatibilidades podem ser conhecidas por todos os adolescentes que não dormem durante as aulas de Física e Biologia. Talvez seja graças à massificação da educação formal que, ao longo do século passado, o aumento gradativo da inteligência esteve correlacionado ao declínio do nível de religiosidade (Gontijo, Rezende e Sampaio, 2011).

Entretanto, como dominar um pouco da teoria da evolução e de cosmologia não é o bastante para a nascença do ateísmo, certamente há algo mais.

Parto da singela hipótese de que a base do questionamento é o "incômodo". Enquanto as coisas estão cômodas, confortáveis demais -- no trabalho, na escola e no casamento, por exemplo --, não temos por que reclamar. Isso deve ser a causa de as pessoas não questionarem as teses centrais de seus credos religiosos. A religião parece amortecer nossa angústia existencial.

Então, o que faz com que um indivíduo decida abandonar suas crenças religiosas? Eu ainda não tenho uma resposta pronta para essa questão. Tudo o que tenho são hipóteses, e a maior parte delas deriva da minha própria história de vida.

No futebol, na escola e em casa, eu nunca me dei bem com exigências injustificadas. E, incomodado com essas exigências, eu questionava: "Por que precisamos ter treino tático uma vez por semana, Divininho?", "Por que eu preciso aprender cálculos que não me servirão para nada, Simone?" e "Por que eu não posso ficar em casa em vez de ir para o sítio com vocês, mamãe?". Como você pode imaginar, eu dei muito trabalho ao treinador do Ipê Campestre Clube, à minha professora de matemática e à minha mãe (para não citar os professores de violão e de inglês, que não me tiveram por muito tempo como aluno). Mais tarde, na crisma, eu não poderia deixar de perguntar: "Se o Novo Testamento foi escrito bem depois da morte de Jesus, como posso saber se nada foi esquecido, confundido ou inventado?".

Até onde me lembro, aquele foi o primeiro questionamento aberto que fiz ao cristianismo. E eu o questionava justamente pelo incômodo de ser doutrinado. Eu não queria começar a fazer catecismo e crisma (embora a companhia de meus amigos tenha tornado o processo até divertido), não gostava de ler o Novo Testamento -- nem de fazer os deveres cobrados pelos catequistas -- e ia à missa aos domingos contra minha vontade (ficar quieto e em silêncio é um grande sacrifício para uma criança agitada). Alguns parentes já me disseram, com tom de compreensão e tranquilidade, que tiveram dificuldades similares na adolescência. Um deles até me confessou já ter passado por uma fase meio ateia... "Mas você mudará de ideia quando envelhecer", quase todos me disseram.

Eu não posso prever o futuro, mas acho pouco provável que eu reconsidere meu ateísmo. É esperado que os jovens passem por conflitos relacionados às drogas, ao sexo e à religião, podendo gravitar entre extremos antes de se acomodar numa zona mais alinhada com as convenções sociais. No entanto, não vejo meu ateísmo como uma rebeldia mal resolvida da adolescência. Antes, vejo-o como uma espécie de amadurecimento, ou um refinamento, do meu comportamento de questionar.

Meu questionamento foi se estendendo das questões práticas àquelas mais abstratas, mesmo que o propósito fosse quase sempre o mesmo: não fazer o que eu não estava afim. Aos poucos, comecei a perceber que eu podia defender meus interesses com bons argumentos, bem como que nem sempre as pessoas tinham boas justificativas para sustentar suas crenças e exigências.

Mais ou menos aos dezoito anos, descobri que questionar a existência de Deus provocava um espanto curioso nas pessoas. Comecei a me entreter e a acumular algum conhecimento à medida que eu discutia com colegas e adultos sobre religião. Com minha entrada no Orkut, encontrei muitas comunidades voltadas ao ceticismo -- eu não estava sozinho! --, e, ao me mudar para Belo Horizonte, em 2006, bastou-me entrar em contato com a literatura evolucionista para que meu ateísmo efetivamente desabrochasse.

Mas certamente houve, e ainda há, outros fatores em jogo. Não é nada fácil rever nossas crenças mais arraigadas, encarar nossa finitude e aceitar nosso "lugar" no universo. É preciso coragem, um bocado de conhecimento em ciência e filosofia e algum "amadurecimento existencial" para poder ficar em paz com um estilo de vida secular. Em suma, é preciso ter alguma bagagem -- de vida e de teoria -- para preencher o buraco deixado pela religião. E, como o filósofo Alain de Botton sugere em seu livro Religião para Ateus (2011), é possível nos prepararmos socialmente para isso. Só não sei se muitos vão querer pagar para ver.

Últimas palavras

Ao longo das respostas dedicadas ao estudante de Teologia, procurei demonstrar por que nossas profundas questões existenciais não nos levam logicamente a Deus. Espero não ter sido indelicado nem exaustivo, e devo dizer que eu não tive o propósito de convencer ninguém de que o ateísmo é "a verdade". Não sou convicto de que Deus não existe, tal como não sou convicto de que fadas, duendes e marcianos não existem. No entanto, se for para eu fazer uma aposta, coloco 99% das minhas fichas na hipótese negativa.

Em tom de reflexão, fiquemos com uma memorável amostra do que não devemos fazer com o questionamento de nossos filhos. A não ser que você queira que eles não sejam curiosos, inovadores e consigam se defender com inteligência, ensinem-nos que "Porque sim não é resposta".(2)



Notas

(1) A palavra "sentido" também é utilizada em momentos em que estamos tentando entender um processo ou o funcionamento de alguma coisa. Por exemplo, ao querermos entender qual o sentido de haver buracos na Lua ou de existirmos, podemos estar simplesmente querendo entender como foram produzidos aqueles buracos e como foi que surgimos e/ou evoluímos. Nesses casos, a palavra "sentido" seria um sinônimo de "causa", e não de "propósito".

(2) Não aprendemos apenas com nossos "acertos e erros", mas também observando o comportamento alheio e ficando atento ao ensinamento dos mais experientes. Acompanhar o Castelo Rá-Tim-Bum e -- talvez mais ainda -- a TV Cruj foi algo certamente decisivo para meu amadurecimento. Espero que as crianças de hoje contem com programas ao mesmo tempo divertidos e instrutivos.

Referências

  • Botton, Alain de (2011). Religião para Ateus. Rio de Janeiro: Intrínseca. 
  • Gontijo, D., Rezende, J., & Sampaio, P. (2011). O aumento da escolarização como possível macrocontingência relacionada a dois fenômenos do século XX: o efeito Flynn e o declínio do nível de religiosidade. Apresentação de trabalho realizada no XX Encontro da ABPMC.
  • Hume, D. (1757/2004). História Natural da Religião. São Paulo: Editora UNESP.
  • Hume, D. (1748/?). Investigação sobre o Entendimento Humano. São Paulo: Escala. 
  • Sagan, C. (1996/2006). O Mundo Assombrado pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia das Letras. 
  • Wilges, I. (1995). Cultura Religiosa: as religiões no mundo. Petrópolis: Vozes. Em: Dalgalarrondo, P. (2008). Religião, Psicopatologia e Saúde Mental. Porto Alegre: Artmed.

10 comentários:

  1. Daniel, seu texto está sensacional! Parabéns! Gostei muito!

    Me identifiquei com todos os trechos, pois já cheguei a essas mesmas reflexões muitas vezes e também já fui confrontado com as questões que o teólogo colocou diversas vezes também.

    A parte da Crisma foi muito boa! Eu sei bem o que é isso porque também fiz parte por um tempo do grupo de uma igreja próxima da minha casa. Mas entrei mais porque meus amigos daqui sempre foram católicos e ficavam insistindo. Achei que a Crisma fosse um bom lugar pra eu tirar minhas dúvidas e questionar, mas acabei me deparando com um "curso" feito para aqueles que já tinham fé ou para os que simplesmente queriam ter fé. Depois, de uma lida nesse meu post: http://www.nerdworkingbr.blogspot.com.br/2013/02/sobre-o-meu-ateismo.html Digo algumas coisas sobre o que penso sobre o ateísmo e qual a minha postura sobre isso.

    Só queria fazer uma ressalva: vc define espiritualidade, religião e outros vocábulos análogos de uma maneira muito ocidental. Não que não deva ser assim, afinal, somos ocidentais! rs Mas é que criacionismo, a existência de um Deus antropomórfico e "antropofílico" (adorei o termo) é algo muito cristão, digamos. No Oriente existem moldes diferentes de crença...aliás, nem podemos chamar todas as religiões orientais de crenças. Budismo e Taoísmo, por exemplo, são tão crenças quanto a filosofia de Sócrates e Platão, digamos. Não precisamos nem falar de oriente, se não quisermos ir muito longe. Quando falamos de místicos cristãos como Meinster Eckhart, Thomas Merton e Francisco de Assis, acabamos tendo uma visão de Deus muito pouco antropomorfizada. Nesses moldes, não existe confronto com a ciência, pois eles estão interessados em outra coisa que não descrições naturalistas do mundo. A preocupação deles é mais como um pragmatismo dialético psicológico, em que a mente é treinada (ou novos comportamentos são criados) para ver além das "ilusões" criadas pelos condicionamentos diários. Enfim...é muito pano pra manga explicar isso...espero que tenha entendido com essa explicação breve! hehe

    Abraço!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Entendo e concordo com seu importante apontamento, Felipe. A definição que utilizei de religião/religiosidade não contempla expressões culturais como o budismo e diversos "espiritualismos". Contudo, achei que eu precisaria optar por algum conceito para conseguir conduzir meu raciocínio. Se eu tentasse abarcar tudo, talvez eu não conseguiria desenvolver quase nada. Mesmo assim, acho que minhas críticas a supostas forças criadoras e intervenientes caberiam para muita coisa. Sobre propostas como certos aspectos das filosofias de vida budista e até mesmo cristã, pode ser que nenhuma crítica similar caiba. Teses como "O apego é a raiz do sofrimento" e mandamentos como "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" podem ser tomadas sem qualquer apelo ao sobrenatural, certo? Há muito mais nas religiões do que assuntos metafísicos.

      Obrigado pelas palavras!

      Excluir
  2. Olha, diria que sou um caso, possivelmente, um pouco peculiar de crente.

    Fui educado em escola evangélica, porém ninguém na minha família é praticante e só frequentávamos a igreja uma vez por ano, na missa de natal. Meu pai é extremamente questionador e odeia a igreja católica, o papa, e religiosos em geral. Ele tem a típica concepção de religião como auto-engano para os fracos.
    Na quarta série, em uma excursão do colégio, fiz uma cena na igreja, me ajoelhando e ironizando a existência de Deus. Disse que se ele existe o Corinthians teria que ganhar o jogo aquele dia, rsss. Enfim, com 11 anos de idade achava a crença em Deus ridícula.

    Curiosamente, após muitos anos de ateísmo, passei a acreditar em Deus. Isso faz uns 6 meses acho. Interessante, não?

    Aspectos que eu vejo como importantes para minha recente crença:

    Conhecimento, ainda que superficial, de obras, autores e argumentos que questionam o alcance do método científico e formulações que sustentam a existência de um Deus (apesar dos problemas para definir o que é Deus).
    No entanto, argumentos contra e a favor existem e é um combate realmente complexo e difícil. Precisarei estudar muita filosofia, epistemologia, metafísica, lógica e método científico para ter realmente uma clareza argumentativa. Desse modo, minha crença em Deus, vai e vem como as ondas do mar, dependendo dos últimos posicionamento contra ou a favor da existência dele.

    Vejo que, em um plano que escapa à lógica dos argumentos, existe uma experiência do Eterno. Sim, pequenos momentos na minha vida em que, de alguma forma, percebi um sentido de eternidade e vividez no universo e nas coisas ao me redor.
    São experiências de curta duração, tipo 5 segundos, às vezes menos, às vezes um pouco mais... mas tem um impacto psicológico muito profundo.
    Racionalmente, me questiono muito sobre a existência de Deus. Mas a lembrança dessa vivência torna difícil negar a sua existência.

    Poderia-se perguntar qual relação esse sentimento/sensação tem com Deus.
    Eu realmente não saberia explicar, não sei quem é esse Deus que eu acredito exatamente...

    Grande abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não sei por que, Mário, mas já tentei responder você duas vezes aqui, e o Blogger não "libera". Tentarei novamente mais tarde, ok?

      Excluir
  3. Grande texto, Daniel. Parabéns!

    Coincidentemente, comprei ontem o livro de Alain de Botton. Parece uma proposta interessante. Li sua resenha antes para me preparar... :)

    Grande abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Dittrich! É um livro bem bacana! Acho que vai curtir. Conversamos depois a respeito...

      Abraço!

      Excluir
  4. Olá Daniel! O texto ficou ótimo. Já virei leitor regular do blog! Fiquei especificamente curioso pelo seu estudo apresentado em 2011 na ABMC de Salvador. Vocês já publicaram algum artigo dele? Teriam algum documento para compartilhar ou algo do tipo? Gostaria de conhecer o estudo completo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Gehazi! Em função de outras prioridades, acabei deixando meus estudos sobre comportamento religioso na gaveta. Se tudo der certo, retomarei o projeto no ano que vem.

      Obrigado por acompanhar... Abraço!

      Excluir
    2. Por favor retire da gaveta e acrescente aos estudos científicos, pois sobre esse assunto é difícil encontrar material cientifico. A comunidade cientifica agradecerá imensamente se publicar algo!!!

      PS: Adorei o texto, excelentes argumentos e explicações!!!

      Excluir
  5. Ola, Daniel...tenho lido seus textos...Você é mega inteligente!! Te agradeço, pois sou curiosa quanto a religião, existência de um ser que não se vê, etc...mas, cada vez mais vejo em minha vida e na vida de minha família a acao de um ser "invisível" mas real!!! espero que algum dia você se encontre com Ele!
    um grande abraco seja muito feliz!

    ResponderExcluir