segunda-feira, 24 de maio de 2010

De neurônio em neurônio

Os neurônios são as unidades elementares do sistema nervoso. Cada célula neuronal é composta por um corpo celular (cell body), um axônio (axon) e dendritos (dendrites). Os dendritos são prolongamentos (ou acessórios), como fios de cabelo, nos quais estão arraigados receptores sensíveis a moléculas dispostas no meio extracelular. O axônio, um prolongamento caudal, conduz o tipo típico de sinal -- um sinal elétrico -- que trafega pelo sistema nervoso: os impulsos nervosos, também denominados potenciais de ação.


Nosso encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco encefálico) abriga cerca de 100 bilhões de neurônios. Essas células comunicam-se entre si descontinuamente. O impulso nervoso, ao atingir os terminais axonais, promove a liberação de moléculas -- os neurotransmissores -- na fenda sináptica, um espaçamento entre os neurônios. Quando essas moléculas se ligam a um número suficiente de receptores pós-sinápticos -- enraizados, p. ex., nos dendritos do neurônio vizinho --, um novo impulso nervoso é gerado. Veja abaixo uma animação de como seria esse diálogo neuronal.(1)


A velocidade média do impulso nervoso é de 10 metros por segundo, sendo que axônios mais espessos e/ou mielinizados (revestidos por mielina) transmitem sinais mais rapidamente. Similarmente à lógica do código Morse, a informação transmitida entre os neurônios está codificada na frequência de impulsos nervosos.

Os impulsos nervosos percorrem extensas redes ou vias (p. ex., as vias sensitivas), várias das quais medeiam o diálogo entre o encéfalo e o resto do corpo. A título de exemplo, e como será mostrado no vídeo a seguir, neurônios da área motora primária, localizada no neocórtex, enviam sinais que modulam o comportamento do dedo indicador.


De neurônio em neurônio, como pessoas que conversam umas com as outras, mensagens são incessantemente transmitidas e, concomitantemente, pensamentos, sentimentos e condutas públicas são produzidos. Doenças psiquiátricas e neurológicas podem envolver distúrbios na neurotransmissão, e diversos fármacos atuam de forma a tentar restabelecer a comunicação neuronal normal (Gazzaniga e cols., 2006). De estudantes universitários a tubarões, camundongos e abelhas, os princípios da geração, condução e transmissão de impulsos nervosos são os mesmos. Disso desdobra a possibilidade -- e a conveniência -- de se estudar a circuitaria de animais não-humanos com a finalidade de compreendermos e intervirmos adequadamente sobre o nosso próprio maquinário neural.

Nota

(1) Embora não esclarecido no texto, o vídeo mostra como o impulso nervoso é conduzido ao longo do axônio, a saber, através da despolarização da membrana axonal. Ademais, cabe salientar que os neurotransmissores -- embora possa parecer no vídeo -- não entram na membrana pós-sináptica. Em vez disso, eles se ligam a receptores que, por seu turno, permitem a troca de íons entre o neurônio pós-sináptico e o meio extracelular (tornando o primeiro mais excitável). As moléculas que adentram a membrana neuronal na ilustração são, portanto e provavelmente, íons de cálcio e de sódio.

Referências

  • Bear, Mark F. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. Porto Alegre: Artmed, 2002.
  • Gazzaniga, Michael S. Neurociência Cognitiva: a biologia da mente. Porto Alegre: Artmed, 2006.

2 comentários:

  1. "De neurônio em neurônio, como pessoas que conversam umas com as outras, mensagens são incessantemente transmitidas e, em consequência, cognições e comportamentos são produzidos."

    Estou fazendo um projeto de pesquisa que fala sobre a atenção como sendo um processo cognitivo. Lí o livro citado, entretanto, não havia reparado nessa parte.
    Gostei do texto! Bom para iniciantes e profissionais que não lembram muito bem das aulas de neuroanatomia =)

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  2. muito bom daniel!!!
    adoro neurociências e adorei o blog!

    beijos,
    Loren.

    Blog: peacecologia.blogspot.com

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