terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pinker e a Tábula Rasa

Steven Pinker, professor de Psicologia em Harvard, está entre os principais entusiastas atuais da Psicologia Evolucionista. Seus livros Como a Mente Funciona (Companhia Das Letras, 1998) e Tábula Rasa (Companhia das Letras, 2004) trazem ao palco um tema razoavelmente evitado durante o século passado: a natureza humana. Neste último, em especial, Pinker procura desbancar a ideia de que a mente do recém-nascido é um recipiente a ser preenchido pelos pais e pela sociedade, a concepção de que o homem em seu estado primitivo é um bom selvagem e a crença de que uma alma imaterial dotada de livre-arbítrio é responsável pelas ações do indivíduo.

Assista abaixo comentários do autor sobre alguns temas polêmicos de seu livro. (Para ajustar uma legenda, clique em View Subtitles.)


19 comentários:

  1. Não consegui ver o video, infelizmente, mas quero muito ler esse livro.
    Atualmente mais e mais trabalhos são lançados a respeito de genes ditando o comportamento humano. Sei que posso ser suspeita, mas acredito que a influência ambiental é muito baixa quando comparada à genética (até agora dita como 30%). Esse valor ainda carece de maiores estudos, e particularmente creio que seja ainda mais baixo. Praticamente todos os comportamentos selvagens que ainda permanecem em nossa carga genética são resultado de milhares de anos de Seleção Natural, e é claro que não irão simplesmente "desaparecer" por crenças e culturas diversas, apesar de muitos ainda acreditarem nisso.
    Muitos comportamentos "ensinados", como o altruísmo muito dito por Dawkins, provavelmente não são de origem genética, mas podem ter sofrido seleção (ou sofrem) por serem de alguma forma benéficos para o indivíduo como forma de favorecer a sociabilidade.
    O que eu quis dizer com isso é que mesmo os comportamentos "aprendidos" atualmente, ou seja, que não são derivados dos primórdios da Evolução Humana, podem estar agora em processo de Seleção recente, como um novo comportamento que será "inserido" no processo de Seleção Natural da sociedade atual.
    É só uma ideia... ^^
    =***

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  2. O problema do Pinker é que ele se aventura falar do que não sabe, neste livro. Ele atribui ao Behaviorismo o papel de um dos principais representantes da teoria da "tábula rasa", sinal que sequer leu um livro de Skinner antes de se aventurar a falar dele. E se leu, não compreendeu.

    Ele confunde o Behaviorismo Radical com o Behaviorismo Clássico de Watson. Para o Behaviorismo Radical, o ser humano nasce com um repertório comportamental mínimo, derivado da seleção natural assim como as demais caracteristicas anatomo-biológicas. Watson, por outro lado, assume a postura da tábula rasa.

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  3. Sim, Neto, sua crítica é razoável. No entanto, desconheço o que um AC considera como sendo esse "repertório comportamental mínimo". Também gostaria de saber, se você dispõe desse conhecimento, se há na perspectiva comportamental algum espaço para a genética no sentido de explicar em algum grau diferenças individuais, não atribuindo somente ao histórico de reforços os motivos pelos quais somos distintos em, por exemplo, personalidade e inteligência.

    Obrigado.

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  4. Nanda, como pode haver seleção natural atuando sobre um comportamento aprendido? A propósito, não são os genes que são selecionados? Ou você quer dizer que aprendemos certos padrões sociais (seleção cultural, digamos) uma vez que possuímos genes que favorecem a aprendizagem/emissão de comportamentos sociais?

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  5. Skinner vai dizer que o processo de variação e seleção comportamental ocorre em 3 níveis - filogenético (correspondente à seleção natural), ontogenético (história de aprendizagem individual) e cultural (práticas do grupo). Há sim espaço para a genética como variável relevante para diferenças individuais, mas a ênfase é dada na interação entre o organismo e o ambiente.

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  6. Sim, creio que não fui muito clara. O que quis dizer foi realmente do sentido de genes favorecendo esse comportamento. A pessoa tem que ter uma certa propensão genética a adquirir comportamentos sociais, senão não há cultura que "force" o indivíduo a ser de uma maneira que seria biologicamente inaceitável. Dessa forma, os genes, e consequentemente o comportamento, são passados para a prole.

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  7. Sim, Alecto, lembro-me dos níveis de seleção propostos por Skinner. No entanto, sem a consideração das diferenças genéticas a "noção tabular" parece querer resistir. Se tratarmos todos os indivíduos como idênticos geneticamente ou, o que é mais comum, se negligenciarmos a importância dos genes - em termos de seus polimorfismos, p. ex. - sobre o comportamento, toda e qualquer variação comportamental entre sujeitos poderia ser explicada por contingências ambientais - o que é um equívoco. Pode ser que nesse último ponto a maioria de nós ainda esteja pecando - por resistência ou por desconhecimento.

    Nanda, obrigado pelo esclarecimento.

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  8. Skinner vai falar, e muitos pesquisadores depois dele dos "padrões fixos de resposta", ou respondentes, além da sensibilidade a certos reforçadores.

    O livro Aprendizagem do Catania deixa bem claro isso... a dicotomia inato-aprendido é meio ilusoria, todo comportamento tem partes inatas e partes aprendidas, uns apresentam mais de uma e outros mais da outra como num continum.

    A variação filogenetica no entando não nos torna "tão" diferentes assim a ponto de nos diferenciar drasticamente em comparação as contingencias ontogeneticas e culturais.

    Isso porém é caracteristica do ser humano, que em determinado momento de sua evolução meio que bloqueou a seleção natural, com o surgimento da cultura e de seu controle sob a natureza, ele passou a criar o ambiente que o selecionava.

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  9. É verdade, Marcos: nossos comportamentos têm, simultaneamente, origens inatas e ontogênicas.

    "A variação filogenetica no entando não nos torna 'tão' diferentes assim a ponto de nos diferenciar drasticamente em comparação as contingencias ontogeneticas e culturais."

    Discordo. Por exemplo, pessoas com deficiência na concentração do hormônio leptina comem excessivamente, sendo em geral pessoas obesas (deficiência causada por mutação genética). Se o assunto é personalidade, gêmeos idênticos compartilham, quando adultos, entre 40 e 50% de seus traços (p. ex., graus de "neuroticismo" e "amabilidade"), enquanto que gêmeos não-idênticos e irmãos (não-gêmeos) compartilham, respectivamente, menos e muito menos desses traços.

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  10. Que legal esse debate...rsrs

    Nesse caso a deficiencia organica, foi uma operação motivadora, que tornou a comida um reforçador mais poderoso que todos os outros que consequentemente aumenta a probabilidade das respostas relacionadas a procurar comida, comer, etc., acontecerem. uffa... essa é a resposta behaviorista.

    Mas essa deficiencia é devido a variaveis filogenéticas (variação aleatória e/ou hereditaria).

    No caso dos gemêos realmente o organismo ser semelhante pode facilitar certas semelhanças em traços, mas o ambiente ser muito parecido também contribui. (na minha visão muito mais)

    Mas isso é questão de fazermos em conjunto uma pesquisa (cognitivista e comportamental) pra falsear ou um ou outro ponto de vista...

    Até mais!!

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  11. Marcos, penso que a frequência elevada do comportamento em questão não diz respeito à qualidade reforçadora do comer. Diferentemente disso, "comer demais" poderia decorrer da ausência da saciedade, isto é, da ausência de um tipo de consequência (referente à emissão do comportamento) normalmente encontrado na população.

    De forma simples e elucidativa, uma explicação cognitivista poderia ser: a sensação de saciedade, importante reguladora do comportamento "comer", está ausente em pessoas com deficiência na síntese de leptina. Com efeito, essas pessoas tendem a comer desenfreadamente.

    Veja que a ausência de uma sensação foi descrita como uma variável independente, i. e., como importante reguladora do comportamento "comer ininterruptamente". Mesmo que esse comportamento esteja inserido em uma relação organismo-ambiente, dependendo do "ângulo de análise", como você outrora sugeriu, podemos explicá-lo de diferentes formas.

    "Mas isso é questão de fazermos em conjunto uma pesquisa (cognitivista e comportamental) pra falsear ou um ou outro ponto de vista..."

    Concordo com você.

    Um abraço.

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  12. Skinner abandonou o conceito de "drive" (que foi adotado por muitos neobehavioristas e utilizado também nas ciencias cognitivas) já em seus primeiros escritos, pois algo intermediador como sensação de fome, ou saciação é em si um comportamento que pode ou não se tornar um estimulo, mas ele só vem a acontecer em um período do continuo entre a variável ambiental e a a emissão da resposta operante.

    Você come motivado pela privação de comida mesmo quando não pode sentir (respondente eliciado que é ao mesmo tempo um estimulo discriminativo para o seu relatar fome), o comer não é causado pela fome, mas pela privação, pois a fome é sentida somente em alguns casos do comer, já a privação alimenticia é presente em quase que 100% deles, a isso podemos atribuir qualquer estado interno.
    Os estados são comportamento evocados ou eliciados pela contingência e não causas intermediarias do agir.

    Agora de uma forma mais ampla: o comer em si é uma operação motivadora, pois altera o valor do reforço comida, diminuindo-o, em algum momento deste continuo vc "sente saciação", ou seja um respondente é eliciado pelo preenchimento das paredes de seu estomago, e vc relata esse fato pois foi reforçado por uma comunidade verbal para tal.

    Os cognitivistas adotam a estrutura e a entendem como um dado real, os behavioristas quebram ela em unidades funcionais.

    Para a analise do comportamento o sentir são vários e complexos comportamentos entrelaçados e encadeados. E não estados internos.

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  13. Marcos, o que acontece se você manipular, digamos, retirando, um desses comportamentos encadeados que traduzem o comportamento "comer"? Estou aludindo que alguns desses pequenos comportamentos, como a sensação de fome, atua como uma variável independente. Portanto, se alguém está administrando um medicamento que inibe a sensação de fome, então ela deixará de comer. A sensação, que estou tratando como uma variável independente, é um termo psicológico que possui correspondentes biológicos (possivelmente uma alteração no funcionamento hipotalâmico). Concordo que há uma miríade de pequenos "comportamentos" encadeados; mas não é menos verdade que há uma estrutura regulando um comportamento "maior". No meu ponto de vista, mais uma vez, é mais prático e promissor trabalhar com estruturas e suas respectivas funções e relações do que apenas com relações organismo-ambiente.

    Um abraço.

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  14. É mais prático sim, mas não devemos nos esquecer que essas estruturas cognitivas são compostas em ultimas instância de relações do organismo como um todo com seu ambiente. E mais que isso são constructos teóricos e não entidades reais.
    Não tenho como avançar quanto a isso, porque meus conhecimentos nessa área são pequenos... mas gostaria muito, "se as metas/macro/contingências me permitem" estudar essa área de neuro, e tentar aplicar o paradigma behaviorista radical nela.

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  15. Concordo com você, Marcos: precisamos entender o funcionamento dessas estruturas, possivelmente modeladas pela seleção natural, em um contexto organismo-ambiente. Quanto a serem simples construtos teóricos, vamos com calma. Talvez um conhecimento mais aprofundado em Neurociência possa nos responder quanto à realidade/aplicabilidade desses construtos. Esse é um dos meus objetivos profissionais e -- talvez até mais -- pessoais.

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  16. Chegamos a um ponto em que só a pesquisa experimental pode responder.

    Tanto o behaviorismo quando o cognitivismo são legitimas ciências por isso. Apostam tudo no experimental.

    Bacana.

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  17. Ei Daniel!
    Pinker e seus estudos são fantásticos! É sempre uma surpresa vê-lo!
    Acabo de conhecer seu blog e o achei muito interessante, por isso o estou seguindo, para que possa acompanhar seus trabalhos através de seus posts.
    Em meu blog, falo sobre Gestalt-terapia, se houver interesse:
    http://gestaltemfigura.blogspot.com/

    Um abraço e parabéns pelo seu trabalho, que achei sensacional!

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  18. Olá, Cristina. Obrigado pela participação e reconhecimento. Também estou seguindo você.

    Um abraço.

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  19. Uma questão, que peso genético poderá ter uma aprendizagem de topo, que depende de vários factores, como as que adquiriram os indivíduos de alto rendimento, ou "geniais" (génio para mim pode ser meio arbitrário, dependendo de vários factores). Um indivíduo é neurocirurgião de topo porque tem propensão genética para certas aptidões, ou dependerá praticamente apenas da qualidade da aprendizagem, em sentido lato, e qualquer vantagenzinha inicial à partida numa aptidão simples dissolve-se na quantidade e qualidade enorme de aprendizagem que envolve o alto rendimento? Ou seja,a um nível alto, o rendimento depende quase exclusivamente da aprendizagem (em sentido lato) do que qualquer influencia genética, é o que defendo. E você?

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