quarta-feira, 6 de abril de 2011

Revisitando o Behaviorismo

Após trafegar durante alguns anos por abordagens mentalistas, entre as quais pela Psicanálise e, mais recentemente, pelo Cognitivismo, eis que me permito novamente explorar um terreno ímpar, epistemologicamente avesso a quase tudo o que há no campo da Psicologia: o Behaviorismo Radical.

O Behaviorismo Radical (BR) é a filosofia que fundamenta a Análise do Comportamento -- também conhecida como Psicologia Comportamental. Segundo B. F. Skinner (2006), seu principal arquiteto, o BR oferece uma forma muito peculiar de se estudar o comportamento humano. Diferentemente das abordagens mentalistas, a partir das quais o comportamento deve ser entendido como o resultado do dinamismo de componentes internos, mentais, Skinner prioriza uma análise interacionista, na qual o comportamento é tomado como um processo, como a relação organismo-ambiente. Disso decorre que pensamentos, crenças e sentimentos, p. ex., componentes que deveriam explicar o comportamento, são eles mesmos comportamentos (ou melhor, respostas à estimulação ambiental) e devem antes ser analisados sob as perspectivas histórica, selecionista e contextual. Com efeito, esses comportamentos desenvolvem-se mediante as e estão contidos nas relações organismo-ambiente, sendo portanto um equívoco tratá-los descontextualizadamente e/ou tomá-los como o ponto de partida de uma análise -- o pecado da maioria das demais aboragens. Para Skinner, análises mentalistas ou estruturalistas mais descrevem do que explicam o comportamento.

Apesar dessa revolução epistemológica, que se iniciou desde a primeira metade do século passado, diz-se às vezes que o BR é ultrapassado, superficial e que seus moldes não contemplam toda a riqueza do que é essencialmente humano. Perante essas e outras críticas, Skinner não poupou força e elegância ao escrever "Sobre o Behaviorismo" (1974), um excelente trabalho em resposta à ignorância e/ou a mal-entendidos a respeito do BR. Eis alguns equívocos que Skinner lista e desmistifica nesse livro:

  • O BR ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais;
  • Negligencia os dons inatos e argumenta que todo comportamento é adquirido durante a vida do indivíduo;
  • Apresenta o comportamento simplesmente como um conjunto de respostas a estímulos, descrevendo a pessoa com um autômato, um robô, um fantoche ou uma máquina;
  • Não tenta explicar os processos cognitivos;
  • Não considera as intenções ou os propósitos;
  • Não consegue explicar as realizações criativas -- na Arte, na Música, na Literatura, na Matemática ou na Ciência;
  • É necessariamente superficial e não consegue lidar com as profundezas da mente ou da personalidade;
  • Trabalha com animais, mas não com pessoas;
  • Seus resultados, obtidos nas condições controladas de um laboratório, não podem ser reproduzidos na vida diária;
  • Cultua os métodos da ciência mas não é científico;
  • Desumaniza o homem; é redutor e destrói o homem enquanto homem;
  • Só se interessa pelos princípios gerais e por isso negligencia a unicidade do individual.

Parece, conforme especulou Skinner (2006), que parte da dificuldade de se entender o BR advém da dificuldade de se entender a própria ciência; outra parte, do enraizamento de concepções e explicações mentalistas que nos acompanham desde a grécia antiga; e uma outra parte, da falta de esforço dos próprios analistas do comportamento no sentido de clarificar sua linguagem e de mostrar seus resultados aos públicos acadêmico e leigo. Com efeito, solucionar esses impasses se faz uma tarefa imprescindível para que o BR e a Análise do Comportamento sejam revitalizados.

Os maiores problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano (Skinner, 1974).



Referência Bibliográfica:

Skinner, B. F. (2006). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.

7 comentários:

  1. É isso ai meu caro! Espero que seus estudos nessa abordagem amplifiquem o seu conhecimento global de Psicologia.

    E que ela se torne a sua epistemologia, para que possa revisitar as pesquisas cognitivistas sob um "novo olhar", vc teria muito a contribuir para a comunidade e para a ciência.

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  2. Obrigado pelas palavras, Marcos. Realmente tenho acreditado que a epistemologia behaviorista, pouco compreendida por muitos, ainda tem muito a contribuir para a ciência!

    Um abraço!

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  3. Muito bom Daniel !
    Agora é arregaçar as mangas e estudar muito. Falta só arrumar seus horários ai e voltar a ir no grupo de estudos rs.

    Qualquer dúvida, tamos ae pra gente conversar !
    Abraços !!

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  4. Muito bom, Daniel! Vc soube resumir bem o Behaviorismo Radical, não deixando de considerar seus principais aspectos. É importante lembrar que Skinner considera como "ambiente" qualquer estímulo, externo ou interno, que possa afetar o comportamento, e não só o meio ambiente como muitos acham! Tenho muito material sobre o assunto, se vc precisar! Beijos!

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  5. Obrigado, Ramon e Júlia. Fico feliz por ter um feedback assim de pessoas tão queridas! Espero aprender muito com vocês, bem como poder ensinar algo na medida em que vou crescendo nesse ramo do conhecimento tão distinto e fascinante.

    Um abraço!

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  6. Oi Daniel

    Fiz dois Posts Teóricos que podem te interessar!!!

    http://funcionalanalise.blogspot.com/

    Dá uma olhada lá!

    Abraços!

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  7. Olá, Daniel gostaria que me explicasse a respeito de uma das objeções que são feitas ao Behaviorismo, gostaria de sabe se "O behaviorismo não considera as intenções ou os propósitos?" sim ou não e justifica-se

    Desde já agradeço.

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