segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ciência em Psicologia

Podemos rezar pela vítima do cólera, ou podemos lhe dar quinhentos miligramas de tetraciclina a cada doze horas. [...] Podemos tentar a quase inútil terapia psicanalítica pela fala com o paciente esquizofrênico, ou podemos lhe dar trezentos a quinhentos miligramas de clazepina. Os tratamentos científicos são centenas ou milhares de vezes mais eficazes do que os alternativos. Renunciar à ciência significa abandonar muito mais do que o ar-condicionado, o toca-disco CD, os secadores de cabelo e os carros velozes (Sagan, 1996/2006, p. 25-26).

Podemos, enquanto psicólogos, lutar pela promoção do método científico em Psicologia, ou podemos, junto à Psicanálise, ser colocados no barco das abordagens de eficácia questionável. Acredito em uma Psicologia vista não como um "recurso alternativo", mas como um fazer científico complementar e independente cujo objeto de estudo é o comportamento.

Mas como é possível uma ciência do comportamento? Baum (2006):

Na ideia de que é possível uma ciência do comportamento está implícito que o comportamento, como qualquer objeto de estudo científico, é ordenado, pode ser explicado, pode ser previsto desde que se tenham os dados necessários e pode ser controlado desde que se tenham os meios necessários. Chama-se a isso determinismo, a noção de que o comportamento é determinado unicamente pela hereditariedade e o ambiente (p. 25, destaque meu).

Se assumimos que o comportamento é ordenado e que se apresenta com regularidade, não o temos como aleatório. Por exemplo, a regularidade da forma como nos interagimos com as pessoas permite falarmos de "traços de personalidade". Se agíssemos tão distintamente a cada vez que encontrássemos alguém, seríamos tão imprevisíveis, e mesmo irreconhecíveis, que não nos caberia adjetivos como "afável", "ríspido", "introvertido" ou "responsável" -- embora nos pudesse caber "imprevisível". Com efeito, o padrão e a regularidade com que nos comportamos permite que as pessoas, mesmo leigas em Psicologia, categorize-nos em adjetivos ("extrovertido", "sociável" mas "ansioso", p. ex.), prevejam nossas ações em algum nível e possam deliberadamente nos influenciar (p. ex., convencendo-nos a ir ao cinema ou acalmando-nos em circunstâncias adversas). Pode-se dizer que a folk psychology (ou a Psicologia Popular) se fundamenta em uma ciência rudimentar.

Mas a ciência comportamental deve ir e vai além. Se não aceitamos a aleatoriedade, logo podemos descobrir em que circunstâncias um tipo de comportamento ocorre -- se é ao ter suas ideias objetadas, se é ao esperar pela ligação do(a) namorado(a), se é ao se submeter a uma entrevista de emprego ou se é ao ser abordado por um estranho. Podemos desvendar suas origens, bem como compreender as circunstâncias que o fazem persistir ao longo dos anos. Podemos, ainda, estimar a frequência, a intensidade e a duração desse comportamento, e a partir dessas medidas podemos arquitetar e aplicar intervenções e posteriormente avaliá-las. A propósito, boas intervenções requerem boas análises do comportamento-alvo.

Termos e conceitos

Há tanto várias formas de se analisar um comportamento como várias formas de se intervir sobre ele. Skinner sustentou que o caminho para uma ciência do comportamento está no desenvolvimento de termos e conceitos que permitem explicações verdadeiramente científicas (Baum, 2006). Baseado em Mach (1960), Baum (2006) assevera que

a ciência cria conceitos que permitem a uma pessoa dizer à outra o que se relaciona com o que no mundo, e o que esperar se determinado evento acontecer -- conceitos que permitem a previsão com base na experiência passada com esses eventos. Quando os cientistas criam termos como oxigênio, satélite e gene, cada palavra contém uma história completa de expectativas e previsões. Esses conceitos nos permitem falar economicamente dessas expectativas e previsões, sem necessidade de repetidamente darmos longas explicações (p. 39).

O termo "gene" -- e derivados -- costuma ser prático no contexto de uma explicação sobre semelhanças comportamentais -- ou de personalidade -- de gêmeos idênticos. Se dissermos "É genético!", queremos dizer que suas disposições comportamentais são em grande medida herdadas e que, é claro, esses irmãos carregam os mesmos genes. Ademais, esse termo permite aos geneticistas dizer de e manipular, com base em expectativas preconcebidas, certos segmentos do ADN. Temos, a partir disso, que o termo "gene" é econômico e, por facilitar a prática científica, operacionalizável.

Nesse sentido, psicanalistas inventaram termos como libido, inconsciente e repressão; cognitivistas lançam mão de termos como desejo, crenças e esquemas; analistas do comportamento, reforço, extinção e operações estabelecedoras; humanistas, congruência, aceitação incondicional e empatia. Acontece que, quando se trata do fazer científico, certos termos e conceitos são mais ou menos aplicáveis, operacionalizáveis. Em geral, termos "bons" referem-se àqueles que são facilmente observados e/ou mensurados, bem como que diminuem a confusão ou a ambiguidade de uma hipótese ou modelo qualquer. Termos psicanalistas não satisfazem nenhum desses critérios. Termos behavioristas podem ser, em princípio, de difícil compreensão; mas estes superam, por exemplo, os termos humanistas -- que são elegantemente compreensíveis -- no quesito "operacionalidade científica". Talvez possamos dizer o mesmo dos termos cognitivistas.

Para o idoso, o declínio da memória declarativa pode anunciar o início de um acometimento demencial. Para qualquer pessoa, a frequência de certas classes de resposta em contextos específicos pode dizer das variáveis que o controlam, das funções que assumem esses comportamentos e da privação de uma pessoa em relação ao produto dessas funções. Memória declarativa, da Psicologia Cognitiva, e classe comportamental, contexto, função e privação, da Análise do Comportamento, são termos que resumem uma cadeia de expectativas -- são atalhos conceituais cujas observações ou medidas permitem que prevejamos e controlemos certos fenômenos. Caso a hipótese seja confirmada, o idoso com doença de Alzheimer poderá se submeter aos tratamentos farmacológicos e de reabilitação disponíveis. Para a reabilitação, esquemas de reforçamento poderão ser utilizados para que esse idoso aprenda a utilizar dispositivos mnemônicos compensatórios e/ou a fortalecer respostas que tendem a se extinguir em razão da progressão dessa doença. Como resultado, termos econômicos e cientificamente operacionalizáveis facilitam o trabalho do profissional e permitem que este ofereça melhor amparo para seu cliente -- e esse é um ponto em que ciência rima com ética.

Métodos e evidências

Voltemos ao caso dos gêmeos idênticos. Contrapondo à hipótese genética, poderíamos dizer que aquelas semelhanças se dão pela ordem dos planetas na ocasião do nascimento desses irmãos, sendo a explicação astrológica, portanto, uma alternativa à primeira. Contudo, os signos ou quaisquer descrições astrais meticulosas não explicam por que gêmeos idênticos são, no âmbito comportamental, mais semelhantes do que gêmeos fraternos (que não compartilham 100, mas apenas 50% dos seus genes). Ao fornecer termos econômicos (Áries, Libra e Capricórnio, p. ex.) baseados na ordem dos planetas e relacionados a certas expectativas, a Astrologia, em se tratando de previsão, falha ao ser submetida a observações sistemáticas.

Sagan (1996/2006), a respeito da ciência e da pseudociência, ressalta:

A pseudociência difere da ciência errônea. A ciência prospera com seus erros, eliminando-os um a um. Conclusões falsas são tiradas todo o tempo, mas elas constituem tentativas. As hipóteses são formuladas de modo a poderem ser refutadas. Uma sequência de hipóteses alternativas é confrontada com os experimentos e a observação. [...] Alguns sentimentos de propriedade individual são certamente ofendidos quando uma hipótese científica não é aprovada, mas essas refutações são reconhecidas como centrais para o empreendimento científico. [...] A pseudociência é exatamente o oposto. As hipóteses são formuladas de modo a se tornar invulneráveis a qualquer experimento que ofereça uma perspectiva de refutação, para que em princípio não possam ser invalidadas. Os profissionais são defensivos e cautelosos. Faz-se oposição ao escrutínio cético (p. 39).

Felizmente, certas premissas da Astrologia, um exemplo de pseudociência, podem ser contrastadas com -- e são esmagadas por -- previsões da Psicologia Diferencial e da Genética Comportamental. O método científico é de longe a melhor forma de obtermos conhecimento a respeito de como o mundo funciona, e o comportamento humano, não sendo um fenômeno sobrenatural ou aleatório, é um objeto passível de ser cientificamente compreendido.

Não que as abordagens não-científicas da Psicologia sejam pseudociências. No entanto, não raro encontramos psicólogos dizendo de eventos anedóticos que confirmariam indubitavelmente algumas de suas premissas prediletas. Se estamos falando de ciência, observações isoladas e assistemáticas não têm muito valor -- a não ser para a formulação de hipóteses que serão posteriormente testadas. Pior ainda é sentir que uma proporção considerável desses profissionais, que não compreenderem o método científico, toma partido de uma posição anticientífica -- algo como admitir que os fenômenos comportamentais, públicos ou privados, não podem ser explicados, previstos ou controlados. Se isso for verdade, somos desonestos sempre que admitimos um novo cliente. Se não é possível uma ciência comportamental, não podemos oferecer um tratamento digno às pessoas -- e isso equivale a sermos antiéticos. Como não queremos que pessoas que sofrem de esquizofrenia, de TDAH, de TOC ou de transtornos do humor sejam tão-somente medicadas, precisamos nos instruir acerca do método científico(1) e nos esforçar para erigir uma Psicologia baseada em evidências.(2) O caminho será longo e custoso, mas as recompensas decerto valerão a jornada.

Notas

(1) Sugestões de blogs que discutem ciência e/ou filosofia:


(2) Sobre Psicologia baseada em evidências, ver: http://behavioristlady.blogspot.com/2011/07/psicologia-baseada-em-evidencias.html

Referências

  • Baum, W. (2006). Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. Artmed: Porto Alegre.
  • Mach, E. (1960). The Science of mechanics: a critical historical account of its development. La Salle (Illinois). Em: Baum, W. (2006). Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. Artmed: Porto Alegre.
  • Sagan, C. (1996/2006). O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia das Letras.

14 comentários:

  1. Que bom que alguém ainda cita Carl Sagan direito :-)

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  2. Muito interessante o seu texto, Daniel! Acho que essa é uma causa que une muitos de nós aqui na internet e interessados na psicologia. é uma pena que não seja bem vinda em muitas universidades pela conveniência de muitos professores. as citações do Sagan foram bem apropriadas, mas tendo a concordar com ele própio e com o Popper sobre o status de algumas correntes na psicologia, como a psicanálise.

    "Se não é possível uma ciência comportamental, como poderemos oferecer um tratamento digno às pessoas -- como poderemos ser éticos?"

    vc ja deve saber o que esperar para uma pergunta assim, mas ai vai o que provavelmente alguns desses camaradas anticientíficos diriam (é próximo de coisas que eu literalmente ouvi de professores): "não é possível uma ciência psicológica pq o ser humano é mt complexo e não adianta tentar compartimentalizá-lo. O que podemos fazer é ser pragmáticos e desenvolver tratamentos que ajudem as pessoas com seus problemas, mas não adianta tentar entender o funcionamento disso, só podemos remediar os problemas individualmente como eles se apresentam. Vamos tentando até conseguir alguma coisa que funcione e então recomeçamos o processo."

    ou seja, reinventemos a roda toda vez que precisemos ajudar alguém hahaha
    eu discordo desse tipo de posicionamento e acho que ele nao tem qualquer justificativa lógica ou empírica que a sustente.

    Pq não é possível entender o funcionamento de um organismo como o ser humano? nunca ouvi resposta a isso que se baseasse em argumentos lógicos ou evidências, só falas vagas e vazias envolvendo complexidade, subjetividade e como as pessoa não tem nada em comum com as outras. o ser humano e suas culturas são sempre infinitamente diferentes e não possuem semelhanças estudáveis. Isso é um atraso danado... só nós atrapalha.

    abraço!

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  3. Caro André,

    Muitas pessoas têm a ideia de que a psicoterapia é unicamente um lugar para desabafo e conselhos... e que a ciência poderia tirar esse "lugar" de conforto e acolhimento. Ora, se a sensibilidade, o acolhimento e a "audiência não-punitiva" por parte do psicólogo forem elementos imprescindíveis para a melhora das condições de vida de um cliente, tratemos de adotá-los. Se não forem posturas que auxiliam TODO cliente em QUALQUER situação, podemos criar formas diferenciadas de atuar. É verdade que todo sujeito é único... mas isso não implica que todos são tão singulares que uma ciência do comportamento não seja possível. Somos diferenciáveis, mas não tanto que não compartilhemos certas características. Somos complexos, mas não tanto que sejamos incompreensíveis.

    Obrigado pelas palavras. Um abraço.

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  4. "A pseudociência é exatamente o oposto. As hipóteses são formuladas de modo a se tornar invulneráveis a qualquer experimento que ofereça uma perspectiva de refutação, para que em princípio não possam ser invalidadas."

    Exatamente, xará. Uma teoria científica nunca pode ser provada; ela sempre permanece hipotética. Mas tem que ser falseável. É preciso indicar algum critério experimental que poderia refutá-la. Por exemplo, se a teoria da força da gravidade estipula que entre QUAISQUER corpos há uma força de atração, se algum dia você soltar um lapis no ar e ele não cair no chão, a teoria estará refutada. Se a teoria da relatividade prevê que o espaço é curvo ao redor de grandes centros de gravidade, esta teoria estaria refutada SE as experiências realizadas em dias de eclipse não tivessem mostrado que a imagem das estrelas ao redor do sol de fato se desloca do ponto de sua localização previamente conhecido pelos astrônomos.

    Assim, é fato que teses psicanáliticas, por exemplo, jamais serão científicas. Pois que critério experimental poderia refutar a tese do inconsciente ou a tese do complexo de édipo? A psicanálise sempre encontra brechas teóricas para interpretar os fatos que poderiam refutar estas teses de forma a fazer com que elas voltem a prevalecer.

    Isso não se discute.

    Entretanto, o mesmo vale para as assim chamadas psicologias científicas. Pois, que critério experimental poderia refutar, por exemplo, uma tese behaviorista? Por acaso o behaviorismo também não pode sair pela tangente, assim como a psicanálise, e alegar, em todo experimento falho, que as condições do ambiente e as variáveis do condicionamento são grandes demais para serem controladas em laboratório, e que os fracassos experimentais não podem invalidar suas teses?

    O critério da falseabilidade de Popper é o critério científico mais aceito atualmente. Einstein foi um popperiano convicto, e debateu longamente com ele.

    A questão é: Assim como as teorias físicas todas apresentam de antemão critérios experimentais que poderiam falseá-las, quais seriam os critérios experimentais que poderiam falsear uma tese behaviorista? Se estes critérios não puderem ser encontrados, então o estatuto científico do behaviorismo é exatamente o mesmo da psicanálise: Nenhum.

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  5. Caro Daniel Grandinetti, meu xará,

    Muito lúcidas suas considerações. Um dos melhores comentários provocativos que recebi. Não sei se tenho repertório apropriado para respondê-lo, mas deixe-me tentar.

    É verdade: A Psicanálise parece jogar pela regra "Cara eu ganho, coroa você perde". Pode ser que toda abordagem, ou melhor, todo adepto a uma abordagem tente sair pela tangente à medida que se depara com eventos ou provocações que parecem contrariar suas expectativas. Sou da posição de que fazer isso é um desserviço à Psicologia. Em um primeiro momento, penso até ser natural atribuir a variáveis confundidoras, então desconhecidas, o motivo pelo qual nossas previsões falharam. E que previsões seriam essas?

    A previsão da Psicologia, como deve ser para a maioria das ciências, é probabilística. Lidamos com o determinismo probabilístico. Pode ser que isso seja um obstáculo ao critério da falsificação, mas julgo que não impossibilita uma tese científica acerca do comportamento humano (pensamentos, emoções, comportamento aberto). Lançando mão do método científico, estamos gradativamente enxugando nossos métodos e formulando princípios que explicam cada vez mais e melhor os fenômenos comportamentais. Acontece que a Psicologia é incipiente e temos um longo e árduo caminhar pela frente -- sem deixar de comentar que estamos tratando do objeto de estudo mais complexo do Universo conhecido.

    Sendo mais específico e objetivo, o modelo de seleção pelas consequências, então adotado pelo Behaviorismo Radical (BR), provê explicações para a origem das espécies, dos comportamentos e dos "traços" culturais. Verificamos experimentalmente que organismos humanos e não-humanos aprendem em razão das consequências de seus comportamentos, bem como que estes (tipos destes) voltam a ser emitidos em circunstâncias similares às que foram ocasião para suas primeiras emissões. O selecionismo é um modelo atraente, econômico e experimentalmente promissor. Na verdade, parece não haver modelo que melhor explique a aquisição, a manutenção e a extinção de comportamentos. Não que o selecionismo seja infalível -- e qual modelo é? --, mas ele parece melhor acomodar a maior parte daquilo que observamos. Se identificarmos o surgimento espontâneo de novas espécies, avisemos aos especialistas -- ou aos religiosos. Se bebês nascerem andando e falando alemão, peçamos para nos beliscar. A aprendizagem é baseada em processos e o comportamento operante é a jóia do BR. Se queremos tentar balançar as bases da Análise do Comportamento, o "condicionamento" é o "x" da questão.

    Um abraço.

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  6. Daniel, parabéns pelo blog. Cheguei ate aqui através de uma sugestão do meu amigo Daniel Grandineti e me surpreendi com a qualidade dos seus textos.

    Esse é um debate tão antigo quanto a própria psicologia, seu status cientifico. Concordo com seu xará quanto ao critério da refutabilidade, mas isso a meu ver demonstra um problema ainda mais antigo. Ao que me parece há uma certa miscelânea quando se trata de psicologia, seria ciência humana? Ciência natural? Ou por incrível que pareça, ciência exata? Esta dificuldade aponta para a variedade de psicologias dentro da psicologia, e dentro desta variedade há mais esforço para se encontrar diferenças que semelhanças. E como cada escola tem sua própria epistemologia e campo de atuação a distancia só aumenta. Com a neurociencia e a ciência cognitiva houve um casamento apropriado, que rendia a psicologia sobras de um status de ciência natural e da nova ciência da computação ( que nao deixa de ser uma ciência exata) soma se a este movimento a sócio biologia e a psicologia evolucionista.

    Temos aí um cenário perfeito. Uma ciencia que estuda a origem, uma que estuda o cérebro e uma que estuda a mente e um método de pesquisa que os agrega. Esta tudo bem nao esta? Sim para alguns, mas nao para a psicologia que se confunde ainda mais. Médicos já colhem frutos desta união com novos entendimentos das demências e epilepsias. Mas a meu ver, nos psicólogos colhemos apenas novas teorias que possuem lacunas abissais e que sao preenchidas com retórica. Bem mas existe a neuropsicologia. Porém praxis da neuropsicologia é a mesma aplicada por terapeutas ocupacionais e fisoterapeutas a anos e nunca me pareceu ser um domínio da psicologia, mas da medicina.

    Estamos perdidos então? Claro que nao, no dia que fincarmos o pe que no campo expeculativo todos tem razão e buscarmos uma ponte entre humanidade, natureza e exatidão teremos uma proposta de ciência. O behaviorismo Radical foi o que mais chegou perto, mas a tarefa completa é mais complicada que a teoria unificadora da física.

    Mas sou psicólogo clínico este debate so se torna pertinente se acrescenta alguma coisa para meu cliente, e nao para minha vaidade intelectual. E realmente acredito que uma ciência psicológica pode ajudar tanto portadores de transtornos mentais quanto de dores existências, e afastar de vez a psicologia do achismo que nossos colegas propagam no fantástico.

    Sei de ante mão que meu amigo Daniel Grandineti vai discordar de tudo que escrevi, mas este desencontro que alimenta nossa amizade e me instiga. Portanto vejo no debate a forma mais pura de ir alem. Mais uma vez, meus parabéns por este excelente blog, virei freqüentador.

    Abraços

    Renato Maia

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  7. Caro Renato,

    Você tocou em um ponto muito importante. A ascensão da Neurociência provoca medo em alguns e esperança em outros. Sendo deste último grupo, acredito que, além de trazer de vez a mente para o mundo natural, temos agora mais recursos para estudá-la e, para alguns, até mesmo para questioná-la (existe mesmo uma mente?). Li certa vez que a Neurociência poderia funcionar como um juiz para as teorias psicológicas -- tiraria-nos da especulação. Mas técnicas como o imageamento não dizem muito caso seus dados não sejam lidos por um bom modelo. Como você disse, as ciências cognitivas vêm aproveitando bem a oportunidade -- o processamento informacional está na vanguarda. Modelos cognitivistas dos transtornos da aprendizagem, por exemplo, são em grande parte construídos a partir de estudos interdisciplinares. Parece que o poder integrador de um modelo é a marca do seu sucesso.

    Mas a Psicologia deve ser independente. Embora influenciada por outras ciências, deve ter meios de análise e intervenção próprios que a diferenciem. Se não fosse assim, não faria sentido delimitar uma ciência específica para o comportamento -- ou para a mente. Se temos algo que os medicamentos, as cirurgias, as religiões e as pseudociências não podem fazer pelas pessoas, tratemos de mostrá-lo ao mundo. Se não o desenvolvemos eficientemente, tratemos de fazê-lo. Proponho que o método científico seja o melhor caminho.

    No mais, fiquei contente pela visita e pelas palavras. Volte sempre e participe, Renato.

    Um abraço.

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  8. Daniel

    Segundo seu pensamento, o método cientifico realmente é o mais apropriado promissor. Um ex. Porque as igrejas evangélicas obtém mais "sucesso" na "recuperação" de presos do que a psicologia? Se a ciencia da mente/comportamento estiver bem estabelecida teríamos como entender este mecanismo e ajudar a tantos outros que nao querem se bitolar, digo converter. E este penso ser o esforço necessário, uma metodologia e eficaz, uma lógica segura e sua aplicação pratica reproduzível. Mas insisto, as dificuldades para essa compreensão sao tão complexas quanto a teoria unificadora da física. as leis que se aplicam, e funcionam, ao macro contradizem as leis que se aplicam ao micro, que também funcionam, e vice-versa. Mas esta confusão é deles e nao nossa. Tenho as mesmas expectativas suas e concordo com seu ponto de vista, mas acho que ainda temos muito o que fazer.

    Ps só estou postando como anônimo pq parece que nao tenho perfil em lugar nenhum. Se eu estiver fazendo alguma coisa errada, me da um toque que nao sei mexer nisso.


    Abracos

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  9. Pois é, Renato. Concordo com você. E o problema é grande porque, como você comentou outrora, temos muitas Psicologias. Temos também muitas igrejas evangélicas, e temos também muitas pessoas distintas que cometem crimes distintos e são distintamente punidas. São muitas variáveis, podendo portanto ser difícil chegar a um denominador comum. Mas não é impossível. Penso que o denominador comum está para um conjunto de princípios que pode explicar, de forma econômica e efetiva, muitos fenômenos. Se o evangelismo é mais eficiente na mudança comportamental do que certas abordagens psicológicas, temos que compreender os métodos empregados pelo primeiro. Esses métodos, digamos, instruir moralmente os ex-presidiários e dar-lhes certos incentivos, poderiam ser lidos pelos princípios gerais de uma ciência do comportamento. Feito isso, e organizando certas estratégias conforme nossos princípios, poderíamos planejar "programas de reabilitação" e testar se nossos métodos superam o método evangélico -- o que provavelmente aconteceria.

    Renato, de forma alguma a caminhada é curta e fácil. Muito pelo contrário. Mas não que não consigamos com um pouco de esforço de cada um.

    Um abraço.

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  10. Ola Daniel, grande e bom companheiro de Universidade. Fui apresentado a seus pensamentos por seu blog somente agora. EStou encantado com o nível de seus argumentos e suas reflexões. Pertinentes enquanto um estudioso. Muito bom, estarei sempre por aqui, quando um tempinho me for possível para conversarmos e produzirmos. Tenho certeza que nossas discussões irão render batsante, uma vez que ao que tudo indica os nossos "pontos de vista" epistemológicos seguem "vetores" diferentes. E isso é bom, é rico, é produtivo!!!
    Hebert (Psi Fumec)

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  11. Estimado Hebert,

    Aguardo ansiosamente por futuras visitas suas. Com certeza poderemos debater muito e aprender um com o outro. Diferenças epistêmicas podem, para homens sensatos e que se permitem colocar suas ideias em questão, ser uma oportunidade para o crescimento, para a expansão de fronteiras. Seja sempre bem-vindo.

    Um abraço.

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  12. A morte de Sagan foi uma das maiores perdas da humanidade nos últimos tempos... :(

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  13. Pessoal das ciências humanas importa, equivocadamente, um modelo de ciencia que funciona com excelência na física, na matemática e na química. No comportamento humano há incontáveis variáveis portanto impossível de se estabelecer princípios próprios a um campo de analise cientifica. O que acontece sao apenas hipóteses e teorias. Há um longo caminho ate considerar a psicologia um campo de estudo com rigor cientifico. Autores como Pinker, Dennet, Cosmides e Dawkins prejudicam mais que contribuem, pois apresentam um cenario onde a ciencia do comportamento já estaria estabelecida, ou nao entenderam o que fundamenta uma ciencia, ou criam factoides de má fe. Mesmo o behaviorismo é uma tese no máximo estatística que jamais empreenderia toda gama que a psicologia pretende estudar


    Marco Antonio

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  14. Concordo que o caminho é longo, Marco, e que há muita gente apresentando algo que ainda não existe. Mas o caminho ser longo e o objeto em questão ser complexo não faz da ciência do comportamento um objetivo impossível de se alcançar, não acha? Nossas previsões e controle podem nunca ter a excelência como o fazem a química e a física, mas decerto podem ser assaz melhores do que fazem a astrologia e a psicanálise.

    Abraço.

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