sábado, 13 de agosto de 2011

Contingências, coincidências e superstições

Às vezes, andando pelo centro de Bom Despacho, minha cidade natal, avistava de longe um amigo ou conhecido. Quando nos aproximávamos, notava que a pessoa que avistara não era quem eu havia imaginado. Isso acontecia com certa regularidade, e o que estava por vir deixava-me com uma pulga atrás da orelha. Alguns minutos após o engano, eu acabava eventualmente encontrando meu conhecido. Impressionado, deixava-me seduzir pela ideia de que aquele equívoco se tratava de premonição (sinal de que algo vai acontecer) ou telepatia (sentir à distância). Era excitante imaginar que podemos ter superpoderes ou estranhas habilidades superdesenvolvidas. Era. Hoje, mais cético e instruído sobre o comportamento humano, tenho nas mangas explicações razoáveis para os eventos que nos convidam à superstição e à pseudociência.


Contingências e coincidências

Apoiada na literatura behaviorista radical, Souza (2001) assevera que, "em sentido geral, contingência pode significar qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos comportamentais e ambientais" (destaques meus). Vejamos alguns exemplos de eventos contingentes:

  • Se trabalhamos, então ganhamos dinheiro;
  • Se somos alertados sobre o perigo da estrada, então dirigimos com mais cautela;
  • Se comemos ou avistamos alimentos que nos apetecem, então salivamos.

Souza, citando Todorov (1989, p. 354), ressalta que "a cláusula 'se' pode especificar algum aspecto do comportamento ou do ambiente, e a cláusula 'então' especifica o evento [...] consequente. Assim, os enunciados [como os descritos acima] apresentam-se como 'regras' que especificam essas relações entre eventos". Trocando em miúdos, certos eventos (como salivar e ganhar dinheiro) tendem a ocorrer na ocasião ou no contexto em que outros eventos (como ser exposto à comida e trabalhar) se fazem presentes. A relação de dependência entre eventos é comumente denominada relação causal, mas o behaviorismo radical a concebe como uma relação funcional(1) ou contingência.

Estamos lidando com eventos comportamentais, e comportamentos são relações organismo-ambiente. Pensamentos, emoções e condutas públicas são ocorrências naturais e dependentes dos fenômenos mundanos. Não há dualismo; não há mundos paralelos. Toda atividade humana é determinada e, por se tratar de um conjunto de interações, igualmente determinante -- ambiente e organismo modificam-se mutuamente. Essas interações podem ser observadas, inferidas, medidas, controladas e mesmo previstas. A dependência entre eventos nos possibilita fazer, e fazemos, uma ciência do comportamento.

Mas vejamos as seguintes situações:

  • Relampejou quando abri a janela;
  • O ônibus parou no ponto assim que cheguei;
  • Sempre que aperto o botão com a mão direita, o elevador chega logo;
  • Paulo usa sempre a mesma lapiseira para fazer provas; diz que isso faz com que ele escreva respostas corretas (Souza, 2001).

Souza chama atenção para o fato de que abrir uma janela e, no mesmo momento, um relâmpago cortar o céu não se refere a uma relação de dependência. "Os dois eventos podem ocorrer temporalmente próximos, mas de modo totalmente independente: o relâmpago teria ocorrido quer eu abrisse ou não a janela." Por essa razão, relações como essa não são contingentes/dependentes, mas de contiguidade, acidentais ou coincidentes. Não há uma relação de dependência entre chegarmos no ponto e o ônibus imediatamente despontar na esquina. Similarmente ao caso do relâmpago, o ônibus teria dobrado a esquina naquele momento independentemente de o querermos pegar. Há não mais que uma justaposição, uma relação temporal entre aqueles eventos, e agir como se fossem contingentes (ou causalmente relacionados) caracteriza a superstição.

Superstição

Somos curiosos e inteligentes. Quando certas coisas ocorrem, tendemos a indagar "Por quê?". Formular regras que descrevem o funcionamento do mundo é, em última análise, uma questão de sobrevivência. Podemos confeccionar regras ao fazer parte de ou observar certos acontecimentos, como quando um blogueiro verifica que seus textos de divulgação científica são mais acessados e comentados do que os de filosofia. Essa observação, que poderia gerar uma regra como "As pessoas interessam-se mais por divulgação científica", tende a aumentar a probabilidade de aquele blogueiro postar textos sobre o tema que levou suas estatísticas às alturas. Por aumentar a frequência desse comportamento (postar textos sobre divulgação científica), dizemos(2) que aquelas consequências (mais acessos e comentários) o reforçam.

Pode acontecer, entretanto, de um blogueiro desatento realizar observações equivocadas. Em vez de abstrair a regra "Se posto textos de divulgação científica, então tenho mais acessos e comentários", poderia inferir "Se coloco mais imagens ao longo dos textos, tenho mais acessos e comentários". Como não há uma relação de dependência entre publicar imagens e receber mais comentários, dizemos que o comportamento de postá-las é supersticioso. O comportamento supersticioso "trata-se de um tipo de comportamento no qual existe apenas uma relação acidental entre uma resposta [publicar imagens] e a apresentação de um evento subseqüente [receber comentários]" (Santos & Micheletto, 2010, destaque meu). Em vez de publicar mais textos de divulgação científica, nosso blogueiro começaria a publicar textos variados adornados com inúmeras figuras.

Voltemos ao caso do ônibus. Maria, atrasada para uma entrevista de emprego, está diante de uma excelente chance de transformar sua vida. Mesmo que apressada, faz uma prece e, logo ao sair de casa, é abordada por um mendigo. Impaciente, dá-lhe algumas moedas e o deixa falando sozinho. Faltando exatos quinze minutos para a entrevista, Maria chega ao ponto no mesmo instante em que o ônibus desponta na esquina. Pega-o, é entrevistada e consegue o emprego. A partir de então, antes de sair para o trabalho, Maria invariavelmente faz uma pequena prece e dá alguns trocados ao primeiro mendigo que encontrar. Maria: "Essa é a forma [rezar e ajudar os miseráveis] de fazer com que Deus intervenha sobre o mundo de forma a ajudar seus fiéis [conceder-lhes regalias, livrar-lhes do mal etc.]".

Quebrando o encanto 

[É] muito melhor, para as afirmações que ainda não foram refutadas ou apropriadamente explicadas, conter a nossa impaciência, nutrir certa tolerância em relação à ambiguidade e esperar -- ou, ainda melhor, procurar -- a evidência de que as confirme ou conteste (Sagan, 1996/2006, p. 258).

Costumamos interpretar o mundo conforme a regra "Post hoc, ergo proper hoc" -- expressão latina que significa "aconteceu após o fato, logo foi por ele causado". Mesmo que não possamos descrever por que fazemos o que fazemos, a justaposição de eventos explica por que regamos nossas plantas, por que estudamos para uma prova e por que cuidamos, abraçamos e dizemos "Eu amo você..." -- aprendemos que o crescimento das plantas, o resultado de uma avaliação e o fortalecimento dos laços interpessoais dependem dos ou são causados pelos eventos que os antecedem. No primeiro caso, aprendemos mediante a instrução de uma terceira pessoa. Nos outros, comumente aprendemos na medida em que interagimos com o mundo -- na medida em que somos afetados pelas consequências daquilo que fazemos. Acontece, contudo, que a justaposição de eventos pode gerar ambiguidades e, como vimos, comportamentos supersticiosos. Eventos que se sucedem temporalmente não estão necessariamente em relação contingente ou de dependência uns com os outros; eles podem, em vez disso, ser coincidentes ou acidentais.

Quando contei a um dos meus irmãos sobre minhas fantásticas mas hipotéticas premonições, fui simultaneamente surpreendido e convidado ao pensamento cético. "Interessante, Daniel", comentou Thiago, "mas aposto que, em diversas situações, suas supostas previsões telepáticas falham. Você provavelmente memoriza as que se concretizaram, mas esquece as que falharam." A princípio, frustrei-me com aquela inteligente observação. Era inebriante crer naquelas habilidades atípicas e misteriosas. Mas ele tinha razão, e só mais tarde comecei a entender e a valorizar o ceticismo.

Thiago, naquela época, alertara-me sobre a falácia de selecionar observações (destacamos aquelas que confirmam nossas crenças/desejos e omitimos ou esquecemos aquelas que as refutam). Sagan (1996/2006), sobre a relação desse comportamento com a religiosidade, ressalta que as orações que não foram atendidas tendem a ser esquecidas ou abandonadas. Se uma ou outra de inúmeras orações é seguida de um evento desejado, pode-se crer que Deus de fato nos ouve e manipula os fenômenos do mundo ("Post hoc, ergo proper hoc").

A parapsicóloga Susan Blackmore, citada por Sagan, assevera que é fácil ser enganado pelo próprio desejo de acreditar. Apenas um exame minucioso e cético pode nos livrar dos enganos, tanto dos bons (ter habilidades atípicas superdesenvolvidas) como dos ruins (ser vítima de mau olhado). O blogueiro pode, aos poucos, refinar suas observações e concluir que a inserção de imagens não é o que explica o aumento de acessos e comentários, e sim o conteúdo de seus textos.

E o que dizer de Maria? Há condições em que podemos observar e manipular variáveis com certa facilidade (como aconteceu com o caso hipotético do blogueiro desatento). Maria, caso deixasse de rezar e ajudar mendigos, poderia notar que as razões pelas quais certos eventos desejados acontecem, como ser promovida, são outras (digamos, trabalhar com empenho, ser simpática com seus colegas de trabalho e cooperar). Ocorre, entretanto, que seus comportamentos supersticiosos são mantidos por regras abrangentes e por relações que estabelece com outras pessoas. Exemplos dessas regras são "Se há um mundo e pessoas, então deve haver um ser superior, Deus, que criou tudo" e "Se há Deus, então podemos ser punidos ou gratificados". Essas ideias podem nos levar a crer que vários, senão todos, eventos do mundo têm um "dedo de Deus". Se Maria questionar como, quanto, quando e se Deus interfere nos acontecimentos, ela pode ser reprimida por aqueles com quem partilha certas crenças. Ainda, se ela crê que Deus -- à semelhança de nós -- pune quem quer que O desagrade, o questionar silenciosamente pode igualmente ser evitado. Quando menos, como é o caso dos "religiosos liberais", o questionamento pode estar presente mas não fazer desvanecer certas regras rudimentares. Exemplos dessas regras são "Deus existe e pode intervir sobre o mundo" e "A morte nos leva a uma outra dimensão de existência", as quais são difícil ou impossivelmente refutadas, sendo portanto mais resistentes à extinção -- o que não quer dizer que não possam ser indiretamente confrontadas.

Contra o "sussurro de Deus"

Há alguns dias atrás, deparei-me com um artigo cujo autor sugere que jamais estaremos livres do "sussurro de Deus". O comportamento supersticioso, e sobretudo o do tipo religioso, seria um subproduto da evolução. Nossos genes codificariam os mecanismos básicos que, juntos, possibilitariam o desenvolvimento provável da crença religiosa. Sou simpático às teorias evolucionistas. Contudo, desconfio que aquele sussurro seja satisfatoriamente explicado por um processo geral e deveras simples: o condicionamento operante. A disposição, que é herdada, de aprender com as consequências explica a flexibilidade e a riqueza do comportamento humano. Sermos sensíveis aos eventos (isto é, sermos modificados por eventos) que sucedem nossas ações é uma condição sine qua non para a aprendizagem. Se, contudo, certos eventos coincidem com nossos comportamentos, uma associação não-contingente pode ser estabelecida.  O "sussurro de Deus", ou a religiosidade, seria o resultado de uma série de aprendizagens cujo evento reforçador não é contingente ao comportamento previamente emitido. Esse é o erro do tipo "Post hoc, ergo proper hoc", e nós e boa parte dos demais animais estamos a ele sujeitos. O mesmo processo básico que nos permite desenvolver a inteligência (o condicionamento operante) acaba nos fazendo crer no poder mágico de cristais, água benta e crucifixo, amuletos, preces, pensamentos positivos e, no meu caso, equívocos premonitórios.

Contra o sussurro ou o grito da pseudociência, Sagan (1996/2006) aconselha-nos a ser curiosos, duvidar e investigar. Em casos sobre os quais não temos uma explicação baseada em evidências, levantemos hipóteses e escolhamos, mesmo que provisoriamente, a mais razoável. No meu caso, é mais provável que eu tenha habilidades premonitórias cujos mecanismos são impassíveis de ser investigados ou que, em uma cidade interiorana, eu tenha aprendido, mesmo que inconscientemente, que a certas horas e lugares é possível que eu trombe com fulano ou sicrano, que trabalha ou estuda naquelas proximidades? Embora a primeira opção seja mais excitante, a segunda provavelmente descreve melhor e aproximadamente o que acontecia. Passo a palavra a Sagan:

O pensamento cético se resume no meio de construir e compreender um argumento racional -- de reconhecer um argumento falacioso ou fraudulento. A questão não é se gostamos da conclusão que emerge de uma cadeia de raciocínio, mas se a conclusão deriva da premissa ou do ponto de partida e se essa premissa é verdadeira (p. 241).

Notas

(1) Cruz e Cillo (2008), baseados em David Hume e Ernst Mach, comentam que "o conceito de função irá expressar uma concepção relacional que não tem um fim em si mesma". Em vez de dizermos de relações causais, que trazem a ideia de relações necessárias e suficientes (o que conhecemos como mecanicismo), podemos simplesmente dizer que um evento é função de outro evento, sendo que o primeiro influencia a provável ocorrência do segundo.

(2) Quando falo "dizemos", refiro-me aos behavioristas radicais/analistas do comportamento.

Referências

  • Cruz, R. N., & Cillo, E. N. P. (2008). Do Mecanicismo ao Selecionismo: Uma Breve Contextualização da Transição do Behaviorismo Radical. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Vol. 24 n. 3, pp. 375-385.
  • Sagan, C. (1996/2006). O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia das Letras.
  • Santos, G. M., & Micheletto, N. (2010). Relação entre comportamento supersticioso e estímulo reforçador condicionado: uma replicação sistemática de Lee (1996). Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 146-175.
  • Souza (2001). O que é contingência? Sobre Comportamento e Cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista. Banaco, R. A., & Santo, A. São Paulo: ESETec.
  • Todorov, J. C. (1989). A Psicologia como o estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5, 347-356. Em: Souza (2001). O que é contingência? Sobre Comportamento e Cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista. Banaco, R. A., & Santo, A. São Paulo: ESETec.

14 comentários:

  1. olha, caso interessante ocorreu comigo hoje. logo após ler este artigo, saí para pegar um ônibus. já no ponto, uma mulher estava no celular, conversando com alguém. papo de crente, deus é bom, deus faz isso e aquilo, e ela diz: "aí, eu tava saindo de casa e falei para jesus, Jesus, Jesus! faz o ônibus estar lá na hora para eu não me atrasar. quando eu cheguei no ponto, o ônibus chegou! amém jesus!".

    eu ri sozinho naquela hora. santo darwin fica pregando peças em mim, só pode.

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  2. Que curioso, Gabriel! E o fato de você ter lido esse texto deve ter lhe deixado mais sensível a essas situações. Algo parecido acontece com os crentes, como quando ficam sensíveis a certas coisas que, como acusam seus companheiros de crença, podem ser lidas como um "sinal". O engraçado é que qualquer coisa pode ser um sinal -- um beija-flor adentrar nossa casa, uma música com uma mensagem cabível ao nosso momento tocar na estação de rádio que acabamos de sintonizar ou encontrarmos, por acaso, alguém com que há muito queríamos conversar. Tudo depende do desejo e, em paralelo, das coisas mágicas em que acreditamos.

    Abraços.

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  3. Pode ser que todos os outros eventos sejam apenas coincidências selecionadas pelo nosso viés de confirmação, mas existe algo que a ciência não é capaz de explicar: a relação direta entre acender um cigarro na parada de ônibus e a chegada do ônibus. Heheheh!! (brincadeira) :D

    Acho que a palestra abaixo, do Psicólogo ganhador do prêmio Nobel, é um belo complemento para este post. Nela ele fala sobre intuição:
    http://www.youtube.com/watch?v=dddFfRaBPqg

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  4. Excelente o texto e muito bom seu comentário acima tb, Daniel, respondendo o Gabriel!

    Já debatemos bastante esse tema e acredito que debateremos ainda mais. Fica difícil acrescentar algo sem entregar nossas próprias contribuições a este debate. hehehe

    Bem escrito, como sempre, claro e sintético. Eu teria estendido minha crítica à explicação evolucionista, mas enfim... =P

    Abraços

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  5. Voltando ao caso que vc descreveu no início...
    1) Vc pensa ter visto um amigo
    2) Não era ele
    OBS: ISso pode significar que vc sente saudades do cara.
    3) Em seguida, andando mais um pouco, acha o amigo.
    OBS: Isso pode significar que o seu atentar de busca ficou mais ativo praquele amigo em específico depois dos eventos 1 e 2, e aí foi mais provável ver o rosto dele numa multidão.

    Algo parecido ocorreu qdo eu quebrei o braço.. De repente a rua estava cheia de gente com braço quebrado. Na verdade, sempre estiveram lá, só que antes eu não prestava atenção em gessos brancos.

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    "post hoc, ergo proper hoc"

    adorei saber dessa expressão em latim ;-)

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    Darwin fala da "modificação acidental". Gatos de olhos verdes em geral são surdos. Se gatos de olhos verdes foram selecionados pelo ambiente, pode parecer para um naturalista desavisado que foram selecionados pq eram surdos, rsrs..

    Gozado que no livro do Holland & Skinner, eles usam o termo "reforço acidental" para descrever a superstição.

    No mais, algumas modificações acidentais podem ser úteis. Foi assim que o besouro conseguiu voar, esfregando as asas para aquecer-se.

    Quem sabe se uma superstição pode acabar tornando-se evolutiva/útil para algo, né?

    Vai saber, në ;)

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  6. Muito bom o texto, Daniel! Foi bom recordar o quanto estamos sujeitos a esse "tipo de condicionamento"... Valendo abranger para a aquisição daqueles comportamentos ainda mais complexos, como os "controlados por regras". Foi um prazer ser o seu leitor! Marcus Guadalupe

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  7. Cláudio, o caso do cigarro e do ônibus é algo que deve acompanhar boa parte dos fumantes... e a gente sabe que eles vão se lembrar apenas dos cigarros desperdiçados.

    Valeu, Pedro! E vamos guardar nossas melhores cartas para um trabalho digno de publicação, certo?

    Alessandro, boas observações. É a questão da privação que discutimos outro dia no Facebook, não é? Deixa a gente mais sensível a características do ambiente que se assemelham às condições nas quais atuaríamos de forma a gerar eventos reforçadores. E o caso do "braço quebrado" é mais um exemplo de como, sob certas condições, ficamos mais sensíveis a certas classes de estímulos. Sobre algumas superstições tornarem-se úteis, temos todo um conjunto de religiões para confirmar sua hipótese. Há diversas consequências interessantes no crer em coisas mágicas, tanto no nível individual como no nível coletivo. Esse é um campo de estudo no qual ainda quero me debruçar.

    Obrigado pelas palavras, Guadalupe! Sempre um prazer saber que visitou meu cantinho...

    Abraços.

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  8. Eu também já tive um flerte com a premonição, mas eu já era suficientemente cético para apenas me divertir com a ideia.
    Agora, o fato da nossa capacidade de aprendizado necessitar estar baseada na associação de causa e efeito não explica porque não temos também um mecanismo de seleção das reais causas e efeitos separando-as das pseudo causas e efeitos (que nos levam à superstição). Será que este subproduto (superstição) é tão inofensivo que possamos conviver com ele para termos a capacidade de aprendizado? Será que hoje em dia isto já estaria começando a nos afetar?
    Um tempo atrás li o livro "O Andar do Bêbado" do Leonard Mlodinow, não sei se já leste, mas recomendo. Ele mostra como temos a tendência a identificar padrões em tudo e como temos dificuldade em identificar o que é aleatório.

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  9. Olá Daniel,

    Cheguei aqui a convite do Gabriel.

    Gabriel, sobre a questão do coletivo, se a irmã anotasse na agenda o horário do mesmo, as coincidências seriam mais frequentes, rsrs.

    Eu por exemplo, graças aos deuses, toda manhã, ao chegar no ponto às 07, o busu chega, jeováldo seja louvado.

    Lembrei de um caso legal.

    Eu era pirralho, meu irmão estudava à noite. Quando ele chegava em casa ligava a luz do quarto e eu ficava irritado, pois normalmente já estava dormindo.

    Em um certo dia, levantei e gritei "Eu já falei para apagar esta bosta" e dei um tapa apagando a luz do quarto. No exato instante em que apaguei a luz do quarto (nem um segundo a mais, nem a menos), a luz do bairro inteira apagou.

    O detalhe é que eu fiquei de pé, com cara de otário, pensei, "baralho, eu sou foda", rsrs.

    No dia seguinte fiquei sabendo que um caminhão bateu em um poste, derrubando-o e desligando a luz de todo bairro.

    Deus é bom, fez o caminhão bater na hora que apaguei a luz para que eu dormisse em paz, assim meu irmão não ia acender novamente.

    Abraços,

    Evaldo Wolkers.

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  10. Fala, xará!

    Concordo com a explicação do pensamento supersticioso, e concordo com o fato de que temos propensão a ligar causalmente acontecimentos que se sucedem. Mas, também concordo com Sagan quando ele diz:

    "[É] muito melhor, para as afirmações que ainda não foram refutadas ou apropriadamente explicadas, conter a nossa impaciência, nutrir certa tolerância em relação à ambiguidade e esperar -- ou, ainda melhor, procurar -- a evidência de que as confirme ou conteste (Sagan, 1996/2006, p. 258)."

    Rotular suas premonições de coincidência é simplesmente deixar de investigar e responder a questão. Nada está explicado quando você diz que "tudo não passou de coincidência". Por que não suspender o julgamento até que novos dados possam esclarecer a questão melhor? Qual o motivo da pressa em se livrar dela assim tão rapidamente?

    E eu discordo da explicação do seu irmão. Se dissesse que você tivesse feito realmente previsões, ele estaria certo. Previsões são afirmações do tipo "No futuro, isso ou aquilo vai acontecer". A maioria das previões dá errado, mas as pessoas se apegam nas que dão certo.

    Mas, você não fez nada disso. Você pensou numa pessoa enquanto estava na rua, e depois cruzou com ela. Isso já aconteceu comigo várias vezes também. Penso num filme, ligo a TV e filme está passando. Ou então, quando são filmes de TV a cabo, que repetem muito, sempre que passo pelo canal pego o filme na MESMA cena. Quando eu estava na faculdade, estava lá, prestando atenção na aula. De repente, vinha a imagem de um colega meu na mente. Segundos depois, ele entrava pela porta. Já aconteceu de eu sonhar com uma pessoa que não via há ANOS e depois me encontrar com ela no mesmo dia, na rua, depois do sonho. Agora, por exemplo, passei o dia todo com uma sensação péssima: Tenho quase certeza de que o Cruzeiro vai levar uma lavada do Atlético amanhã. Sempre tenho essas premonições antes dos clássicos. Erro poucas vezes e acerto a maioria. Espero que amanhã seja mais uma das poucas vezes que estou errado, mas a sensação está muito forte.

    Enfim, eu também sempre prestei atenção nessas "coincidências". E acho que não há lucro algum em descartá-las como simples coincidências. O bom cético não é aquele que duvida de tudo ou que remete tudo ao acaso. O bom cético é aquele que sabe SUSPENDER seu julgamento até ter fundamentos suficientes para tomar uma posição.

    Abração.

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  11. Caro José Agustoni,

    "Será que este subproduto (superstição) é tão inofensivo que possamos conviver com ele para termos a capacidade de aprendizado? Será que hoje em dia isto já estaria começando a nos afetar?"

    Tanto a superstição como o conhecimento derivado de relações contingentes dependem da nossa capacidade de aprender com as consequências. Ainda não parei para pensar seriamente na implicação de viver crendo em fenômenos supersticiosos, mas sabemos que há tanto consequências desejáveis como indesejáveis -- embora as desejáveis devam ser menores/menos efetivas e podem, em muitos casos, ser substituídas por crenças mais adaptativas (devo escrever um texto sobre isso em breve). E obrigado pela dica de leitura.

    Evaldo,

    É esse tipo de acontecimento que pode dar origem às nossas superstições. E já aconteceu algo parecido comigo... mas em vez de estar bravo com meu irmão e dar um tapa no apagador, a luz do bairro acabou assim que começamos a falar de extraterrestres. Consequência: fiquei anos cismado de que qualquer hora seria abduzido (os alienígenas estariam por perto).

    Grandinnetti,

    "O bom cético não é aquele que duvida de tudo ou que remete tudo ao acaso. O bom cético é aquele que sabe SUSPENDER seu julgamento até ter fundamentos suficientes para tomar uma posição."

    Concordo. Não descartamos compulsoriamente qualquer afirmação sem antes testá-la. Mas se não estamos em condições de testar as hipóteses, tanto melhor optarmos pela mais simples e razoável, não acha? É por isso que eu disse que é mais PROVÁVEL que o fenômeno seja fruto de coincidências ou, melhor, que seja explicado por fatores como o "hábito" (sempre andar por aquele lugar, àquela hora e eventualmente trombar com um conhecido) do que por processos atípicos/mágicos/espetaculares que ligam o presente ao futuro (a propósito, o futuro existe?).

    Abraços.

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  12. Acho interessante ressaltar que as eventos acidentais podem reforçar comportamentos sem que o indivíduo se dê conta. Pode criar um comportamento com frequência altíssima sem saber das variáveis das quais este "é função".

    Outra coisa que estava discutindo com uma professora minha, é o fato de que, o comportamento religioso pode não ser apenas função de contiguidades. Levantamos o exemplo de alguém que reza diariamente e pede para que seus problemas sejam resolvidos. Assim, naquele momento, pode parar de pensar nas contas que tem a pagar, nos problemas do trabalho e etc. Criando um comportamento que é reforçado negativamente, produzindo, por vezes, certo alívio, e inclusive a sensação de que "Deus a tocou", ou que está próximo, que lhe traz paz.. Acho que um comportamento tão complexo, tão presente em tantas culturas vai um pouco além do que um comportamento mantido por contiguidade.

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Ótimo artigo, parabéns! Behaviorismo sempre me "encantando".

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