sexta-feira, 17 de junho de 2011

Hipóteses (prematuras) acerca da Onda Ateísta

Na última terça-feira, dia 14 de junho, marquei presença no simpósio intitulado "Fronteiras entre a Psicologia, a Religião e a Espiritualidade". Esse evento, que aconteceu na Universidade FUMEC, contou com as apresentações de um hinduísta, um budista e um evangélico, cada qual propondo como seus valores, pressupostos e práticas podem contribuir para a Psicologia -- sobretudo na área da psicoterapia. Ao final, no espaço para perguntas, pronunciei-me acerca de uma questão que vive a me perseguir: "O que explica o aumento exponencial de ateus, que compunham um grupo minoritário há até bem pouco tempo, nos dias atuais? A propósito, quais seriam as implicações individuais e sociais do ceticismo em relação à religiosidade?"

Silêncio: esta foi a resposta da platéia e, por alguns segundos, também dos participantes da mesa. Em vista das palavras leves e agradáveis que compuseram as exposições, é provável que todos tinham como improvável um questionamento desse tipo. Olhando uns para os outros, porém, eis que um deles, o budista, sorriu e se dispôs a falar. Paráfrase:
Meu jovem, mais importante do que a crença -- ou a descrença -- que carregamos é a forma como lidamos com nós mesmos e com as pessoas com quem convivemos. Entre os budistas, por exemplo, há divergências a respeito da existência de Deus e mesmo, caso exista, de Sua importância prática. No entanto, a maioria de nós prima por um estilo de vida baseado na filosofia, nos valores e nas práticas budistas -- coisas que vão além de uma posição a respeito de Deus.

Logo em seguida, cada um dos outros dois, o hinduísta e o evangélico, se pronunciaram, contudo sem destoar da ideia trazida pelo budista.

Devo dizer que acho particularmente interessante a hipótese de que uma ideologia não diz muito sobre seus adeptos. Não há um padrão nítido de comportamentos que caracteriza diferencialmente, em termos morais, um budista de um cristão ou um hinduísta de um ateu. Por exemplo, o comportamento religioso (digamos, crer em entidades e eventos sobrenaturais) não é infalivelmente acompanhado por uma tendência maior de, por exemplo, agir solidariamente, ser ecologicamente consciencioso, pagar as contas em dia e ser fiel ao cônjuge. Da mesma forma, e contrariamente ao que alguns crêem, o comportamento cético (digamos, desconfiar de afirmações pouco ou nulamente sustentadas por evidências) não implica em ter uma tendência menor ao comportamento socialmente desejado. Essa ideia é sucinta e caricaturalmente expressa na seguinte imagem:


Não estou dizendo que todo posicionamento filosófico-religioso seja igualmente bom. O relativismo epistemológico é problemático e insustentável. Estou, contudo, questionando a preconização temerosa de boa parte dos crentes de que uma sociedade sem Deus seria caótica, desumana, desgraçada (lembremos do "caso Datena"). Temos evidências de que um sistema moral não é divinamente preconcebido; ele é, em vez disso, construído ao longo da história de relações entre pessoas de uma sociedade, de uma geração à outra. Com efeito, as religiões, na forma de agências reguladoras do comportamento humano, tomam posse desses valores e crenças, ou daquilo que lhes parece ideal, e anunciam-nos como regras e verdades imutáveis e inquestionáveis. Esse ponto, aliás, beira uma de minhas hipóteses sobre a mudança de comportamento filosófico-religioso da população ocidental contemporânea -- algo que permaneceu sem resposta naquele simpósio.

Das mudanças recentes

Tive um professor na graduação que dizia que os modelos macro-econômicos explicavam boa parte das mudanças comportamentais das pessoas. Com o advento do capitalismo, por exemplo, as relações interpessoais, afetadas pelas relações consumidor-produto e pelas condições de vida das cidades industrializadas, teriam se tornado efêmeras, descartáveis, substituíveis. Como consequência, mais pessoas tornar-se-iam socialmente mais inseguras, insensíveis e competitivas.(1) Em se tratando da esfera filosófico-religiosa, o capitalismo teria fomentado a queda ou o enfraquecimento do que seriam verdades inabaláveis. A imigração de pessoas de incontáveis regiões em busca de trabalho contribuiriam para a diversidade de crenças e valores no âmbito das grandes cidades. Dessa forma, criara-se um contexto de choques, conflitos, dúvidas e debates ideológicos.

Para não parar por aí, o advento da Internet, um tanto mais recente, amplificou vezes sem conta o contato à variabilidade ideológica e, portanto, as condições para debate. Fóruns de redes sociais como o Orkut e o Facebook são diariamente contemplados com tópicos cuja discussão não poderia ser outra: fronteiras entre Ciência, Filosofia e Religião. Projetos como o Livres Pensadores, redes como o Evolucionismo e blogues como o Bule Voador, para citar alguns, são exemplos de organizações virtuais empenhadas em agregar, assegurar e instar a livre-expressão de pessoas que partilham de posturas alternativas ao teísmo.

Desse fator global, o advento do capitalismo, que por certo persiste em facilitar a diversidade ideológica, derivou-se naturalmente um fator secundário: o "efeito Flynn". Como expus noutra ocasião, o efeito Flynn refere-se ao aumento da inteligência ao longo das gerações. Com base em uma torrente de pesquisas que constatam a correlação negativa entre inteligência e nível de religiosidade (por exemplo, Nyborg, 2009), há quem sustente que esse fenômeno é um bom candidato para explicar a "Onda Ateísta".

Embora seja uma hipótese deveras atraente, acho incorreto tomar o aumento do QI médio da população como a causa do ceticismo -- isso seria um largo salto explicativo. É preciso saber interpretar o que significa esse aumento. Sabe-se, por exemplo, que as gerações atuais resolvem problemas abstratos mais eficientemente. Segundo Flynn (2009), a mente dos nossos ancestrais "não estava permeada pela linguagem científica e não tinha o hábito de raciocinar além do concreto". Nesse sentido, o upgrade intelectual não estaria tanto para "saber que", mas para "saber como". O efeito Flynn refletiria, em suma, uma mudança na forma de as pessoas lidarem com o mundo (isto é, passaram a interpretá-lo de forma mais abstrata), podendo ser o ceticismo um produto compartilhado e generalizado das condições que oportunizaram essa mudança. No entanto, se não podemos dizer que o ateísmo leva à imoralidade, também não podemos dizer que a ignorância leva necessariamente ao teísmo. Embora o efeito Flynn acompanhe a mudança na postura filosófico-religiosa da população ocidental, há muito mais entre o QI e o ceticismo do que pode precipitadamente supor nossa intuição.

Pode ser, como aludido acima, que o ceticismo não esteja diretamente relacionado com ser mais habilidoso com os números ou com a gramática. No entanto, houve uma ocasião em que o "saber que", em vez de o "saber como", contribuiu decisivamente. Charles Darwin, quando formulou a teoria da evolução das espécies pela seleção natural, deu à humanidade um novo olhar sobre suas origens. Essa proposta, alternativa às teológicas, se aliada à diversidade ideológica e à maneira abstrata e científica de se ler o mundo (algo a ser promovido pelos sistemas educacionais), deve aumentar a probabilidade de as pessoas se posicionarem com ceticismo perante o pensamento mágico. Teríamos, portanto, um fenômeno multideterminado.

Contudo, vale dizer que as três condições supracitadas não explicam isoladamente a Onda Ateísta. Decerto conhecemos teístas inteligentes, que adoram debater diferenças ideológicas e que conhecem bem a teoria da seleção natural. O que acontece, afinal? Suponho que há mais em posturas filosófico-religiosas do que proposições racionais acerca do existir. Deve ser por isso que, mesmo quando um crente assume compreender -- e quando realmente compreende -- a evolução das espécies pela seleção natural, comumente se faz presente certa -- para não dizer forte -- resistência. Formas típicas dessa resistência são 1) afirmar que a evolução foi guiada por Deus e 2) procurar veementemente por lacunas explicativas que poderiam colocar o darwinista em maus lençóis. Falta-nos, contudo, desenvolver ferramentas e um modelo que explique satisfatoriamente os processos de construção e desconstrução do pensar filosófico-religioso. Estudos sobre diferenças em traços de personalidade e em relações parentais, por exemplo, podem ajudar a clarear o breu que circunda esse assunto.

Últimas considerações

Em vez de lançar luz sobre a mente das pessoas, devemos antes estar sensíveis à miríade de transformações sócio-econômicas que permitem a variabilidade, a transformação, a seleção e a difusão de novas ideias. Compreender certos fenômenos, como o efeito Flynn e o ceticismo pós-moderno, requer níveis de análise diversificados. Tal como Datena demonstrou leviandade ao sugerir que a "ausência de Deus no coração" promove a falta de senso moral, devemos nos policiar contra o equívoco de se ler correlações como relações causais (como é o caso dos levantamentos sobre inteligência e religiosidade). O estudo da Onda Ateísta é, no mais, excitante e -- perante suas iminentes, impactantes e prováveis implicações sociais -- socialmente urgente.


Nota

(1) Em relação a essas hipóteses, ver: Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas. Rio de Janeiro: Zahar.

Referências

  • Flynn, J. R. (2009). O que é inteligência? Porto Alegre: Artmed.
  • Nyborg, H. (2009). The intelligence-religiosity nexus: A representative study of white adolescent Americans. Intelligence, 37(1), 81-93.

16 comentários:

  1. Tudo bem que o aumento do QI (que é isso mesmo? rsrs) da população não seja causa do Ceticismo saudável que espero que esteja mesmo se propagando pelo mundo.

    Mas há uma correlação inquestionável entre países muito escolarizados e índices de ateísmo.

    P.e., na Holanda 44% das pessoas se dizem atéias:

    http://lucianoalvarenga.blogspot.com/2010/11/com-44-de-ateus-holanda-usa-igrejas.html

    enqunato na Índia só se encontram ateus, raríssimos, nas camadas ricas e escolarizadas das grandes capitais.

    Ser "ateu" talvez seja apenas um desdobramento secundário de estudar muito, se tornar intelectualmente mais questionador, e não se contentar com qualquer historinha que qualquer um conte...

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  2. Muito estranho. se não define caráter, então (logicamente), não tem como comparar. Para ficar logicamente coesa, teria que ter 2 imagens. Por ex: uma de stalin e hitler e outra com Madre Teresa e Charlie Chaplin.

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  3. Obrigado pela matéria sobre a Holanda, Alessandro. Ela me fez lembrar de um estudo sobre inteligência a postura filosófico-religiosa. Vou procurá-lo depois.

    Concordo que o acesso à informação e um padrão de questionamento questionador são imprescindíveis para o ceticismo. A propósito, como é que o questionar se desenvolve?

    Marcos, a mensagem é que não se pode predizer o caráter de uma pessoa a partir de sua postura filosófico-religiosa, estando em suas entrelinhas uma crítica ao preconceito em relação aos ateus. Acho que as entrelinhas respondem à sua crítica, certo?

    Abraços.

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  4. Alguns pontos que coloquei no chat, mas acho que você já estava off.

    1 - O capitalismo não tem muito a ver com o ateísmo, mas sim com o ceticismo. Pessoas começam a se comportar como charlatões, então as pessoas passam a ter mais cuidado ao adquirir produtos, etc. Ou seja: ceticismo mesmo.

    E isto, por si só, não costuma levar ao ateísmo. Pode acontecer, mas é raro.

    2 - O ateísmo não é recente. Só estamos fazendo ativismo mais recentemente. Isso começou com o ataque às torres gêmeas (que foi causado por fanatismo religioso).

    3 - Mais inteligencia não causa o ateísmo, mais conhecimento científico sim. Quanto mais se estuda ciências, menor deus fica. Este processo aconteceu comigo mesmo, apesar de eu nunca ter chegado, de fato, a acreditar num deus. ;)

    Ainda assim, nem todos que fazem uma faculdade, mestrado, doutorado, etc, se tornam ateus. Mas a maioria sim. ;)

    Enfim... Só mais uns pontos pra clarear as coisas. ;)

    Abraços!

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  5. Obrigado pelas considerações, Mário. E eu realmente já estava off.

    Penso que o capitalismo, que gera competitividade, faz com que mais pessoas passem mais tempo na escola. Passando mais tempo na aula, tornam-se mais "inteligentes". Isso muda tanto a forma de as pessoas pensarem (pensam pela linguagem científica) como permite que elas tenham acesso a mais informações (como acesso à teoria da evolução pela seleção natural). A inteligência, aliás, é medida tanto pela qualidade do pensar (inteligência fluida) como por aquilo que se sabe (inteligência cristalizada).

    Não que o ateísmo seja recente, mas apenas recentemente gozamos de condições que promovem sua sustentação (teoria da seleção natural + inteligência) e proliferação (meios de comunicação).

    Um abraço, meu caro.

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  6. Não gosto do termo "inteligência". Existem muitas definições diferentes - muitas delas contraditórias entre sí - e estas ainda se confundem com o que o senso comum entende por inteligência.

    Mesmo quando utilizam-se definições operacionalizáveis de "inteligência", ainda assim não é raro estas confundirem-se com definições "coisa em sí" de inteligência. Ou seja, como se inteligência fosse uma propriedade do indivíduo, viesse de dentro dele, fosse algo similar a uma "coisa" que ele POSSUI.

    Eu entendo seu ponto, e existem estudos que apontam uma relação proporcional entre, por exemplo, Q.I e ateísmo, escolaridade e ateísmo, condição financeira e ateísmo. Sabemos que se há uma relação entre estes fatores, são, como vc bem compreende, relações indiretas. Pois também temos conhecimento de pessoas com Q.I baixo, pouca escolaridade e/ou baixa condição financeiro que são atéias e o inverso que são religiosas.

    Eu chutaria que o que estamos chamando de "ambiente cético" que favoreceria o ateísmo (estudo de ciências, meio acadêmico, maior utilização cotidiana do raciocínio lógico) seria apenas um ambiente o qual a pessoa entra em contato com as consequências (reforçadoras) de um raciocínio crítico, lógico, científico. Observa como estes permitem compreender melhor as coisas, atuar de maneira melhor sobre as coisas, em suma, tem contato com seus efeitos, ao mesmo tempo em que observa que o raciocínio dogmático ou controlado por regras não expostas a um escrutínio cético, demonstram-se ineficientes.

    Quanto maior a exposição a isso, maior a chance de generalização destas questões também à esfera religiosa.

    É o que Skinner chama, como mencionei em minha apresentação sobre explicações diferentes, da distinção entre fato e ficção: no primeiro há um reforço natural, consequente da modificação que aquilo propicia no seu lidar com o mundo; no outro, um reforço arbitrário (ou artificial) mantido apenas pela comunidade verbal.

    O que nos leva também a concluir que se a modelagem através das regras (dogmas) religiosas for suficientemente forte (ou seja, se tiver sido bastante reforçado por sua comunidade verbal para manter-se religioso e punido por descrer), independentemente do quão ele seja exposto à comunidade científica, ao ceticismo e suas consequências, é possível que jamais venha a se desvincular do pensamento religioso.
    Mesmo estes sendo possívelmente contraditórios.

    Entra aí o fenomeno que Nietzsche chamava de "cérebro dividido".

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  7. Brilhante, Pedro! Acho que você acabou desenvolvendo a ideia que eu tentei economizar, não foi? A linguagem científica citada pelo Flynn envolve os raciocínios lógico, hipotético e probabilístico. Um exame mais crítico sobre os fenômenos do mundo deve acompanhar isso, mas sinto que o "olhar crítico" envolve um tipo de padrão comportamental que o psicólogo diferencial chamaria personalidade. Mas isso dá pano para manga.

    Sobre o estruturalismo, a propósito, você criticou o construto "inteligência". Devo dizer que esse conceito não é tão heterogêneo na academia, bem como que sua noção acadêmica não diverge muito da noção popular. Falei um pouco sobre isso aqui: http://danielgontijo.blogspot.com/2010/09/em-busca-da-inteligencia.html

    Concordo, contudo, que tomar a inteligência como uma COISA, como algo que as pessoas POSSUEM, parece uma noção equivocada. A inteligência não é um órgão como o estômago ou o coração. Inteligência é vista como a CAPACIDADE de uma pessoa resolver eficientemente certos tipos de problema, e por CAPACIDADE podemos facilmente pensar em PROBABILIDADE. Não dizemos que João é inteligente se ele fez uma única boa jogada no xadrez, mas se suas boas jogadas são FREQUENTES. Ver a inteligência como DISPOSIÇÃO, contudo, não exclui a possibilidade de compreender COMO o encéfalo trabalha à medida que pessoas menos ou mais inteligentes resolvem certos problemas, tampouco em desvendar que padrões micro e macroanatômicos estão relacionados àqueles desempenhos. É aqui que pesquisadores como a Marcela Mansur-Alves atuam.

    Um abraço.

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  8. Seu blog tá muito bom de acompanhar, meu brother!

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  9. Fico contente que venha gostando, meu amigo!

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  10. Acho válido diferenciar ateísmo, ceticismo e relativismo/niilismo.Considero o ateísmo uma forma de crença, pois envolve uma conviccção, a conviccção de que Deus não existe.Sei que tem gente que pode pensar, 'Como voce vai acreditar na inexistência de algo^?' mas esse é o pensamento realista/representacionista que para cada idéia existe um correspondente no mundo.Como se a inexistência de algo correspondesse a algo delimitado no mundo.

    Considero o ceticismo, diferente do nilismo, pelo menos atualmente, pois ele envolve pensamento racional e crítico, e também envolve acreditar ou tomar algo como verdadeiro, nem que seja, que o uso da razão é bom ou que o cético tem uma noção razoável do que seja razão.

    O nilismo , ao contrário dos anteriores, é um estado de cegueira irracional.Irracional, pois ignora que acreditar em nada é justamente ter uma crença , por tanto , caindo numa contradição lógica.Essa contradição só se sustenta pelo dogma e cegueira em relação a essa máxima.

    Fiz um texto associando nilismo e o capitalismo

    http://criticacomportamental.blogspot.com/2011/05/arte-comportamental-niilismo-e.html

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  11. Tiago Martins Speckart21 de junho de 2011 às 10:36

    "Considero o ateísmo uma forma de crença, pois envolve uma conviccção, a conviccção de que Deus não existe."

    Só passo para dizer que ateísmo é "não crer que Deus existe", ao contrário do que você disse: crer que Deus não existe. O ateísmo é uma não-crença em Deus

    Assim o ateu é simplesmente a pessoa que não apresenta os comportamentos da classe "crer em Deus". Os ateus que crêem na inexistência seriam um grupo menor dentro do grupo "ateus".

    Fonte: http://ateus.net/artigos/ateismo/os-fundamentos-do-ateismo/

    Desculpem o desvio do assunto :)

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  12. Pedro Siqueira: Além do que o Tiago apontou sobre a não-crença, vale ressaltar que ela não é necessariamente realista ou representacionista.

    Ateísmo não tem nada a ver com isso. Não é muito diferente de não acreditar na existência de fadas ou do Monstro do Espaguete Voador. Além de ateu, sou aférico e amonstrodoespaguetevoador, pelas mesmas razões.

    ´Também discordo parcialmente de sua definição de ceticismo. Primeiramente porque existem zilhões de tipos de ceticismo. Mas tratando de forma geral, seria apenas duvidar de um conhecimento a priori e expor a escrutínio qualquer afirmação. É, em suma, duvidar, como indica a etimologia da palavra (do grego "sképtomai", "olhar à distância").

    O mesmo se aplica ao nihilismo, existindo diferentes utilizações do termo. Quase nenhum deles tem a ver com "cegueira irracional". Nietzsche, por exemplo, era nihilista no sentido de crer que não há uma verdade última, absoluta (a referência ao Uno ou ao Absoluto era comum em sua época e seu meio, por isso a defesa do contrário, o Nada). Isso é especialmente colocado com relação à moral: "Não existem fenômenos morais, mas interpretação moral dos fenômenos".

    Em grande parte, é a negação de um sentido e uma finalidade, especialmente a finalidade como CAUSA e não como EFEITO. É, em outros termos, neste ponto, uma crítica a teleologia.

    Assim sendo, em muitos pontos o Behaviorismo Radical também seria nihilista. E não tem nada de irracionalismo cego nisso.

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  13. Tiago e demais,

    Sei que existem diversos sentidos para as palavras , nihilismo, ceticismo e ateísmo, assim como com muitas palavras.Só busquei acentuar concepções comuns e como entendo essas questões.Procure não se ater aos múltiplos significados dessas palavras, mas ao que busquei significar.Sobre a "não crença em deus" acredito que os agnósticos sejam mais classificáveis dessa forma, já que não acreditam nem deixam de acreditar em deus.

    Sobre o ceticismo, coloquei o conceito tal como ele é usualmente é entendido atualmente.Então acho que não tenho mais nada a acrescentar.

    Sobre o nilismo, acredito que Nietzsche pode ser classificado como um cego irracional, pois crer que não existe verdade absoluta, é acreditar numa verdade absoluta...

    Por fim, não acho que o Behaviorismo, em nenhuma de suas formas, seja de fato nilista.Considerá-lo dessa forma, é desconsiderar o pragmatismo ou qualquer sutentação epistemologia que se possa fazer dele.

    Se verdade não existe, tal como coloca os nilistas, ( e relativistas também...), então não faz sentido acreditar que uma um julgamento pode ser melhor ou mais racional do que outro.

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  14. Pedro: "Sobre a "não crença em deus" acredito que os agnósticos sejam mais classificáveis dessa forma, já que não acreditam nem deixam de acreditar em deus."

    Não, isso também está incorreto.
    Agnóstico é aquele que não acredita que a existência ou inexistência de Deus possa ser provada. Vem do termo grego gnose (ou gnostos) que significa "conhecimento" e o "a" é advérbio de negação.

    Assim, posso ser ateus e agnóstico (como de fato sou), acreditando que a existência ou inexistência de Deus não pode ser provada e isso não é motivo para acreditar em Deus (por causa do ônus da prova e blablabla).
    Posso ser teísta e agnóstico, acreditando que não se pode provar, mas acredito mesmo assim.

    "Sobre o ceticismo, coloquei o conceito tal como ele é usualmente é entendido atualmente.Então acho que não tenho mais nada a acrescentar."

    Usualmente entendido por quem?

    "Sobre o nilismo, acredito que Nietzsche pode ser classificado como um cego irracional, pois crer que não existe verdade absoluta, é acreditar numa verdade absoluta..."

    Essa sua afirmação não quer dizer muito, é apenas um jogo de palavra, que pode ser resolvido acrescentando um artigo na frase: "Não acredito que haja verdades absolutas, inclusive o fato de não haverem verdades absolutas".
    E aí?

    "Por fim, não acho que o Behaviorismo, em nenhuma de suas formas, seja de fato nilista.Considerá-lo dessa forma, é desconsiderar o pragmatismo ou qualquer sutentação epistemologia que se possa fazer dele."

    Não, não é. Pelo contrário. O Behaviorismo Radical pode ser considerado nihilista em alguns pontos justamente por seu pragmatismo. Ele tem por consequência, por exemplo, não acreditar em uma explicação última (logo, não acredita numa verdade absoluta, mas explicações melhores e piores para lidar com o objeto de estudo); é agnóstico com relação a existência de uma realidade per se (crítica ao realismo); rejeita o determinismo absoluto (por isso o determinismo probabilístico); etc.

    "Se verdade não existe, tal como coloca os nilistas, ( e relativistas também...), então não faz sentido acreditar que uma um julgamento pode ser melhor ou mais racional do que outro."

    Errado de novo.
    Primeiro que não é que verdade não existe. Bem, dependende do que vc entende por verdade, mas o que estão se referindo são a verdades absolutas ou verdades últimas.

    E disso não se segue que as explicações são igualmente boas ou igualmente racionais, como apontei em minha apresentação.

    Nietzsche, por exemplo, se chamava de filósofo experimentador, e colocava o valor de verdade de uma afirmação com base em suas consequências. Disso não se segue nem que todas as explicações sejam igualmente racionais nem que haja verdade absoluta.

    Acho que vc deveria ser mais cauteloso e menos categórico em suas afirmações, especialmente por demonstrar desconhecimento sobre o que fala. E não é a primeira vez que te aponto isso, Pedro.

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  15. Em uma igreja, localizada em uma cidade bem antiga aqui do meu estado, lia-se: Aquele que procura o conhecimento afasta-se de Deus.

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  16. Eu acho que o pragmatismo do Behaviorismo Radical é o que justamente o aproxima do Nihilismo nietzscheano. A confusão parece estar relacionada um pouco ao conceito de Nihilismo. Só para destacar a diferença entre o nihilismo fraco e o nihilismo forte (ou perspectivismo).

    No nihilismo fraco nada é verdade, tudo pode. Não existe bem e mal, ou seja, não existem verdades absolutas, então não há critério para a ação. Esse é o nihilismo paralisante, e o mais fácil de atacar (e que deve ser atacado).

    Já no nihilismo forte, ou perspectivismo, não existe verdade para além das pessoas. Não existe bem e mal: existe bom e ruim, e eu faço o que é bom para mim. Esse é o nihilismo que conduz à ação e à construção de valores.

    No caso do Behaviorismo o bom é o critério pragmático, e Skinner faz questão de enfatizar que o comportamento não se "refere" a um mundo "real". Me parece que Skinner incorporou a crítica Nietzscheana ao conhecimento e a transcendeu ao apresentar uma proposta para a ação. Não poderia ser por menos: sendo Skinner um crítico do platonismo, alguma afinidade com Nietzsche seria invevitável.

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